Muito se fala de mãos calejadas pelo trabalho insano, senão escravagista, e de pés calejados de tanto andar para semear e ter o que colher. Mas pouco se fala de corações calejados. O que mais se vê e se constata em nosso entorno são sentimentos tratados com desdém ou ver o seu valor intrínseco negligentemente aviltado, ingredientes esses que endurecem a alma das pessoas tornando-as blindadas ao amor e ternura, vítimas de uma dor que não souberam gerir. Se uma empresa mal administrada vai à falência, um coração mal dirigido leva à ruína, se a nós cabem as decisões tomadas em nome do amor – a mais ninguém.
Não adianta transferir a culpa para outrem pelo fato do coração ficar calejado e deixar de ser o coração alado, quando sentimentos que não são de bom tom se inserem em nossa intimidade, em função do trânsito livre característico de uma vida em comum, de tal modo que acabamos por ir fechando, pouco a pouco, as portas do nosso coração a outras possibilidades. Nos trancamos dentro dele e mergulhamos na introspecção própria desse estado de espírito nefasto.
Não mais permita que alguém invada seu coração e o magoe a ponto de torná-lo acabrunhado e insensível, a um passo da alienação. Se seu coração persiste calejado, cuide dele com mais carinho ainda, como se fosse um paciente que requer cuidado, voltando a se conectar e afeiçoando-se de novo. E que o coração calejado saiba se proteger de quantos pretendam deixar mais marcas em seu espírito tão aberto e receptivo, mirando em outras direções em busca de um horizonte sadio.
Deixe um comentário