“A ser corno, de uma lésbica. Prefiro.” Declaração pungente de homens que já se consideram corneados hoje face à leitura primária da liberdade sexual, independência e autonomia alcançadas pela mulher. Chapados diante da acachapante realidade de que não dominam mais a mulher, elas são donas do seu nariz, o seu faro é que lhes dá o norte, homem nenhum vai segurar seu leme. Ou se preferirem uma versão light, os homens não possuem mais o controle total sobre as relações. Como são perseguidos por uma lógica invertida que vai de um extremo ao outro, de maquiavélicos se tornam sadomasoquistas: se o controle é débil, zero restou, e corno fiquei.
Ai, que sofrimento dessas crianças manhosas e turronas! Quer dizer que sendo corno, é melhor ser de uma lésbica; assim resta a certeza de que a traição não virá de outro homem. O pesadelo, a reencarnação da posse que não se interrompe. De dono do pedaço, do feudo, da gleba, dos seus domínios.
Já que com outra mulher não cheira a traição, ao contrário, dá início à orgia na cabeça e a um fascínio pelo inusitado, uma conquista que marcará época. Investido de uma seriedade e clareza de propósitos que julga infinitamente superior ao grau de comprometimento de que tanto se orgulha a mulher. Na pretensão de controlar o que rola no sexo, no afeto e na troca. O dono do escambo, do negócio, do deve-e-haver. Uma contabilidade só, para registrar as transações que transformarão a inovadora proposta em um grande empreendimento nunca dantes sonhado.
De se relacionar com uma lésbica mulher. Não uma sapatona, que tão-somente afronta e agride como o homem, reproduzindo seu espírito belicoso de tirar satisfação pra quem estiver olhando com más intenções pro que é seu. Eles odeiam as sapatas porque demarcam terreno e esclarecem o que está liberado ou não, impedindo invasões alienígenas. Além de abominarem, no universo feminino, a desfaçatez com que elas falam mal simplesmente pelo prazer de difamar. A desconstruir, segundo os lordes em questão, com critério e, sobretudo, classe.
A ocasião chama o ladrão. O caso é de se relacionar com uma lésbica de alma femina, doce, adorável, de alto astral, uma passiva em oposição ao sapatão, mas ativa em induzir o homem a ambicioná-la e conquistá-la, não sendo permitido a ele qualquer laivo de posse, e sim de desejo. Uma vontade de querê-la a todo custo ao preço de uma exclusividade inalcançável.
Portanto, ser corno de lésbica não feriria sua moral por ser um sonho impossível, inesperado se cair do céu. Mas que arranha, melhor, chamusca seu lado guerreiro. Posto que peitar o reino homossexual, mesmo sendo das mulheres, é perigoso. Por tangenciar a ambigüidade hormonal que rompe com os caracteres rígidos que definem nossa identidade sexual. É correr risco. De repente, dá azar de, através da lésbica, queimar etapas e descobrir o xis do infortúnio pelo qual passa o homem diante dessa amazona que atravessa os prados, cruza os rios, escala montanhas, arrisca seu próprio couro, ao enfrentar maternidade, manter a beleza em alta e o equilíbrio emocional no tom adequado para se apaixonar. E ter de reconhecer que não tem pra ninguém, xará, não é mole não! Suprimindo do seu espetáculo a mise-en-scène de bater no peito e se autovangloriar.
Todos os caminhos levam a Roma. Ou a Meca? Será que não é Bagdá? Xiita no sexo não combina com prazer. Se o mundo tá fazendo água em função do aquecimento global, não adianta chorar o leite derramado. Seria brincar com a verdade. Teimar que nem um burro ao não arredar o pé dessa posição. De marido incorrigível ou reduzido a galinha inveterado. A pior ignorância é aquela em que você começa por ser acomodar, acostuma-se, dela se alimenta e tira lições, gradua-se, adquire certezas no exercício da estupidez, e… parte para ensinar o quanto antes.
Se o tempo urge, nós não estamos aqui para desperdiçar nossa rala existência com outra coisa senão do que entendemos por felicidade.
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