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COTAS RACIAIS

Celebrados os 120 anos da Abolição da Escravatura, era preciso trazer para dentro das universidades segmentos sociais historicamente excluídos, para promover oportunidades iguais a brasileiros tratados de forma diferente, desde que o Brasil foi colonizado pelos portugueses. Consideravam os negros africanos nativos que não passaram pelo crivo da civilização. O povo sem escrita ganhou alforria, mas encontrou barreiras ao longo do século XX para se desenvolver, estigmatizado pela cor, que deixa claro o racismo, e guetificado em favelas ou na periferia dos ricos. 
O sistema de cotas raciais foi criado para reparar desigualdades sociais no seio da família de pretos e pardos, que já são maioria na população, mas longe de ultrapassar o apartheid que privilegia os torturados pela ditadura militar com indenizações milionárias do governo. Que reparação não mereceria quem foi escravizado durante séculos?
Concorrer com alunos de escolas particulares cujo foco é fazê-los passarem no vestibular, enquanto as escolas públicas, em sua grande maioria, não capacitam, à altura do mercado de trabalho, os filhos de negras que, no parir, superam as brancas.
Desde que instituído, os anticotistas se irritam com o ingresso de negros no nível superior de estudo – ainda que débil – e se nivelam à elite conservadora antiabolicionista e monarquista do tempo em que se cagava de cócoras. São os mesmos centrados na bandeira da moralidade, que defendem uma política republicana em que cada instituição há de agir dentro dos limites que lhe são próprios, respeitando cuidadosamente os limites das outras. Temem pela quebra da virgindade da pureza acadêmica.
Ignoram solenemente uma agenda política que exija justiça social, convivência multiétnica e multirracial, com divisão proporcional de poder e riqueza. Só porque evoluíram e pararam de bancar o avestruz, ao finalmente aceitarem a miscigenação como fato consumado. Para descobrir, agora que são expertos em antropologia, que não existe raça – se somos iguais perante Deus. Soltavam os cachorros no socialismo moreno de Brizola e agora não existe racismo no Brasil para aplicar a política de cotas implantada com sucesso nos EUA, no rescaldo das cinzas de Martin Luther King.
É complicado classificar os brasileiros por raças, devido ao bacanal promovido pelos portugueses para ferrar as escravas africanas. Deu no que deu, impossível distinguir uns dos outros. Então, que se alargue o buraco e por aí penetrem os de renda per capita precária, os integrantes de outras minorias étnicas e portadores de deficiência.
Uma utopia digna de um príncipe cruzar os braços aguardando que o Brasil seja um país justo, quando se transformar em potência de Primeiro Mundo, reduzindo a zero o emprego informal, camelôs, barraqueiros e, de cambulhada, programas assistencialistas. O Brasil é repleto de imperfeições, o sistema de cotas deve ser uma ação com tempo marcado para se extinguir, depois de cumprido seu papel. A exemplo do Bolsa-Família. E nada impede que se averigúe o desempenho dos cotistas na universidade e se o mercado de trabalho absorve os formandos.
É preciso sensibilidade à flor da pele em universidades branqueadas pelo pensamento discriminatório.

Antonio Carlos Gaio:
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