Não se deve politizar as tragédias. Mas quem não prepara as cidades para as crises climáticas, hoje perfeitamente prognosticadas, é responsável pelos danos causados e pelas vidas perdidas. Quem comemora a diminuição no orçamento para enfrentar eventos climáticos, merece nosso asco. Ou quem celebra veto à verba já contingenciada para contenção de enchentes não pode se orgulhar de sua testosterona. Já está mais do que claro que a diminuição das reservas florestais para abrir espaço à criação de gado ou envenenar os rios para favorecer a mineração em nada acrescenta para aumentar a riqueza econômica por ser incipiente e não contribuir para pagar impostos. Além de estimular vírus de toda espécie, hospedados em matas que estão sendo desbastadas, a migrarem para outras áreas e dar margem a pandemias do gênero da Covid, sem precisarmos, dessa vez, de importar da China. Portanto, para quem já considerou a Natureza como a porta de entrada para a boiada se servir à vontade, os criminosos do meio ambiente já se espalharam pelos estados governados por gente do Bolsonaro. A bacia hidrográfica do Rio Grande do Sul é formidável, confluindo para Porto Alegre vários de seus rios que desembocam na enorme Lagoa dos Patos (2% do território brasileiro, 54% do Rio Grande do Sul e 60 km de largura), em território sem declive, até suas águas escoarem no Oceano Atlântico, próximo do Uruguai, através de um canal apertado. Vai ser preciso reconstruir todo o estado do Rio Grande do Sul, inundado pelas águas de chuvas torrenciais que elevaram o nível dos rios e puseram abaixo as residências, rever o sistema ultrapassado de comportas para modular o fluxo das águas e principalmente deixar-se guiar pelas mudanças climáticas e pelos voluntários, que salvaram a vida de tantos que correram o risco de morrer afogado em suas próprias casas. O político que privilegiar a economia e o equilíbrio fiscal sem se inteirar das alterações climáticas merece receber o tratamento de criminoso do povo que o elegeu.