Desde que Daniel Dantas foi parar atrás das grades, os intocáveis atores do mais alto poder da República botaram na geladeira o delegado responsável pela sua prisão, detonaram as algemas e limparam a barra dos fichas-sujas. Não contentes, afastaram a cúpula da Inteligência que combate o crime organizado em conjugação com a Polícia Federal, responsabilizando-a pela epidemia das escutas telefônicas. O superpoderoso DD tem em seu currículo o grampeamento de telefones e a espionagem industrial pra cima de seus concorrentes. Planalto, Congresso e Supremo grampeados, bem à altura de sua megalomania. Mas ele não desperta a menor suspeita, a culpa apenas recai sobre o regime policialesco e totalitário vigente, se nem comunistas temos mais. O último que apagou a luz, antes de se bandear, foi o comissário Zé Dirceu, exemplarmente cassado pela Liga da Moralidade. O jargão do Estado autoritário não provém de democratas autênticos na defesa do Estado de direito, mas de nostálgicos dos tempos em que a Polícia Federal beneficiou a candidatura de Serra, ao dar um flagra na derrama de dinheiro no comitê eleitoral de Roseana Sarney, à frente da pesquisa em 2002. É evidente que estão tentando restringir, e até mesmo boicotar, iniciativas policiais imprescindíveis para matar na fonte bolsões de corrupção que afrontam a democracia. O que existe, de fato, é o pavor de corruptos e corruptores serem pegos com a boca na botija, praticando atos lesivos ao país, num bate-papo muito à vontade no telefone. Embora saibam, de antemão, que dificilmente contemplarão o sol nascer quadrado, pois serão agraciados com foro especial e verão seus processos correrem em sigilo na Justiça. No máximo, comerão lagosta, entre seus carcereiros.