O suicídio do goleiro Enke, titular da seleção alemã, a meses da Copa do Mundo, chocou a Alemanha. Menos por ter se jogado debaixo de um trem, um dia após os festejos dos 20 anos pela queda do Muro de Berlim – ele nascido na ex-Alemanha Oriental, na era do comunismo. A dura concorrência à qual o esporte submete para vencer na vida não perdoa os que têm medo de falhar e fracassar no meio. Decepções como a proximidade da barração e a perda de sua filha de 2 anos escondiam a depressão, mal que se eleva à medida que a sociedade se torna mais competitiva e desumana, sem paciência com nossos vacilos. A exigir uma postura marcial de que não se pode transparecer fraqueza – típico dos germânicos e não dos brasileiros, com sua usual baixa autoestima. Obrigando os deprimidos a esconder sua depressão, negando ser uma doença, para se mostrar compatível com a vida, pautados por um padrão de normalidade, embora se perguntando se vale a pena se adaptar a esse mundo de loucos. Muitos não resistem à indagação por já terem sido alcançados pela insanidade, mal disfarçando. Quando o futebol exige alegria de viver. A vitória é o fim.