Carrego meu desapego pra onde vou
“Mas isso não é um apego?”, me perguntou.
Não nego. Meu ego vive se pegando comigo.
Se apegou ao meu umbigo e se faz de amigo, mas é tudo fingimento.
Quando me desapego do lamento e do sofrimento do orgulho, quando mergulho na verdade mais crua sobre mim, sem medo de ir até o fim, eu até sangro, ou me zango, mas depois me libero, não espero ninguém me elogiar, revertendo a lógica para me agradar.
Me descarrego da energia de culpa, da necessidade de me pedir desculpas, da mania de criar desculpas pelos erros. Erro em tudo o tempo inteiro. E tá tudo bem.
Não preciso me comparar a ninguém. Eu quero é me fazer bem. Por isso me desapego, deixo ir. Tento prosseguir com o que consegui aprender. Para errar um erro novo lá na frente e, mais uma vez, fazer diferente. Isso se chama ser gente.
E quando tudo estiver muito bom, não adianta acreditar que encontrei o tom, porque posso desafinar de novo, tá entendendo? É assim que vamos vivendo.
Quanto aos afetos de quem está por perto, o apego aos afagos dos prediletos, este é mais um ponto de desencontro, na verdade encontro com o verdadeiro. Ninguém pode estar com a gente o tempo inteiro. Cada um passa um tempo passageiro na viagem comigo e é aí que volto a olhar pro meu umbigo como quem conversa. Por que te interessa ter alguém com você se ele não pode deixar de viver? Ele não pode cumprir a missão que lhe aguarda, que não é mais sobre você.
Isto se chama egoísmo. É a dor da perda de algo que nunca foi seu.
Nem eu sou toda minha. Mesmo só, não estou sozinha. E o desapego é a minha sina. A nossa. O mundo é muito mais do que eu e essa dor, e é quando percebo e absorvo, que me mato e não morro, eu renasço no amor.