Por que toda vez que eu abro a boca a minha verdade continua presa na garganta? Por que eu falo, falo e até grito, mas as pessoas nunca me escutam de verdade? Noutro dia, uma amiga comentou comigo a respeito do que lia no meu blog: “É impressionante, Mariana. Como você é inteligente! Como tem uma percepção aguçada! Como é que eu convivi com você durante 15 anos e nunca percebi isso? Não conhecia quem estava do meu lado?”
Ela não foi a única. Alguns corajosos já me disseram isso. Que o que eu escrevo é completamente diferente da visão que eles tinham de mim. Que, ao vivo, eu pareço muito mais boba, fútil, superficial, sei lá o quê. Eles não usaram essas palavras, foram mais educados, mas eu entendi.
Num lugar onde trabalhei, isso também aconteceu. Sofri ao ser rejeitada por uma dupla de pessoas de quem eu gostava, pessoas as quais admirava, mesmo sabendo o quanto eles me desprezavam. Mas eu não sofri por ser rejeitada. Sofri justamente por causa dessa certeza. Eles implicavam comigo porque tinham essa visão distorcida de mim. Quer dizer: tinham a visão que todos têm, mas que não corresponde à minha realidade interna. E isso me fez sofrer. Eu pensava: “Por que afasto justamente as pessoas que pensam parecido comigo e só atraio quem é diferente?” Acho que é por isso. Demonstro ser o que não sou e atraio pessoas parecidas com a imagem que eu passo de mim. E não com o que realmente sou. Isso explica eu me sentir tão sem companhia para fazer as coisas de que gosto. Não me relaciono com pessoas que fazem o que eu gosto. Elas não têm interesse em mim. E, por isso, acabo levando uma vida que eu não queria levar. Me deixando levar pelos compromissos aos quais sou chamada, para os lugares onde verei meus amigos, tão diferentes de mim.
Por isso, quando você conhecer alguém muito expansivo, falante, extrovertido, pode logo ir duvidando. Sempre duvide da imagem das pessoas. É preciso lhes dar uma segunda chance para as conhecer verdadeiramente. A extroversão também é uma forma de se esconder. De mascarar o verdadeiro eu. No meu caso, é exatamente isso que acontece. Vou dar apenas um exemplo. Situações em que estou num lugar em que não conheço ninguém. Sabe aquela coisa do silêncio que incomoda? Pois é. Abro a boca e quebro o gelo exatamente pra ninguém perceber o quanto eu estou nervosa com a situação. Com o desconhecido. Lembro-me bem de quando mudei de colégio. Numa época problemática da minha vida, em que faltava às aulas e queria distância dos estudos, acabei repetindo de ano. E fui parar numa escola completamente diferente da que eu estava acostumada há tantos anos. Lugar estranho, pessoas esquisitas. E ainda por cima numa situação nova pra mim, com a qual não convivia bem: estava gorda. Adolescente e gorda. Me sentia o “ó”. Então o que fiz no primeiro dia de aula? Agi como se fosse a anfitriã da festa. Era eu quem saía fazendo as apresentações entre o grupo de alunos novos. Era uma forma de manter o controle. De fazer barulho para não dar tempo de ninguém perceber o quanto aquela situação me deixava constrangida.
Isso explica apenas uma parte. Tem mais. A minha humildade e simplicidade, por vezes excessiva. Não me acho tão ruim assim. Pelo contrário. Acredito tanto em mim mesma que tenho medo de ficar pedante. Por isso, acabo forçando uma humildade, simplicidade e subserviência para não ficar feio. Sabe como é? E não se trata de uma questão de falsidade. É inconsciente. Demorou muito pra eu entender meus próprios mecanismos de defesa. E mudar comportamentos viciados é difícil. Estou no caminho.
Mesmo acreditando em mim, tenho noção do ridículo e sei que os outros têm coisa mais importante a fazer do que ficar lendo desabafos particulares. De qualquer forma, minha intenção é levantar a questão, também pra você: tem certeza de que os outros te enxergam como você verdadeiramente é? Ou você também cria mecanismos de defesa para se mascarar?