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DESCONFIO

Desconfio dessas pessoas que não acreditam em horóscopo e pensam que signo é história para boi dormir, associados a cartomantes predestinados a ler seu futuro. Pois se os ciganos mentem, traem e nos infernizam com seus olhos que enxergam como uma bola de cristal, e provam por A mais B que amor é posse, se não for paixão a vida é morna, perde o interesse, esvai o seu sentido.
Desconfio de quem não leva fé em tarologia e astrologia porquanto as cartas não enganam e os astros ensinaram o caminho para as Índias e descobriram a América, fazendo os orientais atravessarem o estreito de Bering, cruzarem o portal do Alasca e impingirem a cara dos pré-colombianos, cucarachos e dos tropicalistas brasileiros.
Quem não acredita é porque tem medo. Por não poder ter controle sobre sua própria vida. Quem dera, até alimentam essa esperança… inutilmente! Reduzem a existência a um Deus acima de sua cabeça e se colocam em oposição, em disputa desenrolada num quadrado a que se circunscrevem. Não se apercebem que o conflito se concentra na cabeça de John Malkovich e que o extraterrestre não está fora, circula à vontade a manipular seu ego para testá-los. À medida que o seu tempo se esgota, eles se desesperam, por constatar que não detêm as rédeas do jogo, obviedade que não atinaram por se orgulharem do seu óleo superlubrificado cuja potência os coloca à frente dos cavalos que deveriam tocar.
Desconfio de quem não deposita seu crédito no espírito e aposta na crueza do intelecto como símbolo da galhardia da espécie. Cujo horizonte se encerra no cemitério, não distinguindo cinzas humanas de vulcânicas, ou da poeira que varre o planeta na tentativa vã de desmanchar vestígios do percurso do homem. Incinerando arquivos da opressão a quem pensa contrário, fornida na inquisição como fiel da balança de reagir a quem ousa agir. Quando o câncer reside na estratégia maquinada por uma estrutura viciada em pespegar o rótulo de radical e desequilibrado em quem diz o que pensa e não dorme enquanto não desmontar a malignidade impressa no DNA dos apologistas do diletantismo, indiferentes às exigências da arte do ofício de viver em consonância com o que temos de melhor para dar. Acomodados à mediocridade e ao discurso politicamente correto de pensar a família em uníssono, calando vozes dissonantes que vislumbram alternativas fora do círculo fechado.
Essa gente que fala a mesma língua desconfia de quem não pertence à engrenagem, não reza na mesma cartilha e não se submete a chefetes que se arvoram em herdar posições de influência, porquanto invejam a audácia de quem anda no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Sem o menor pudor, se entregam à desconstrução do espírito crítico, de quem não tem papas na língua, sem a mínima preocupação em legar um caráter de veias abertas a seus filhos.
Acabam invariavelmente no divã do psicanalista, no terreiro do pai-de-santo, ou nas mãos de espíritas que os guiarão quando sua resistência chegar a zero e entregar os pontos.
Desconfio de quem desacredita do oráculo de Delfos, os enigmas estão por aí mesmo para serem interpretados. Qualquer tentativa de reduzi-los à insignificância, fará jus à desdita de passar a vida em branco e não haver encontrado uma resposta.

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Antonio Carlos Gaio
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