Osama bin Laden virou a página do século XX ao disparar jatos com passageiros americanos para destruir as torres de Nova Iorque, o Pentágono e a Casa Branca. Realçando a cultura islâmica. O contraste surrealista entre a cultura do véu e a cultura do corpo. Infundindo o temor de como caber no mesmo planeta, tamanha a diferença na identidade assumida. Muito antes do terrorismo se alastrar pelo planeta, as mulheres ocidentais abandonaram os nichos reservados a elas nas famílias, desentocaram e partiram para o ataque.
“Os homens que não se façam de besta comigo, dou conta do repertório das putas com um pé nas costas! Que história é essa de se sentir atraído por elas e cheio de falta de imaginação comigo? Não há nada que me impeça de interrogá-los sobre suas fantasias. Entre constranger e respeitar sua intimidade, prefiro invadir seu espaço aéreo. Parece que os homens são lesos e desconhecem a fêmea que têm. Abaixo da Linha do Equador, tudo é permitido em nome da paixão e do tesão, ainda mais se somar, juntar, agregar.”
Ao não serem incluídas nesse bacanal do amor, se sentem como a última mulher do mundo, incapacitadas do ato mais sublime, picante e ardente que dá margem à volúpia de rasgar o véu, de vencer resistências e de barrar do baile o preconceito.
Os homens fazem questão de separar o sexo com a sua mulher da degradação com a puta, preservando a louça fina de rompantes, ímpetos desarrazoados e baixarias, a título de alcançar o Olimpo dos orgasmos. A partir dessa distinção, ele congela a imagem da mulher na esposa, e perde a vontade – o desejo é sugado e se bandeia para outras plagas.
Não se apercebem que elas, rebaixadas, ficam mais curiosas e mais excitadas, ao criarem mentalmente o som e a imagem de um filme que ainda não começou. Se colocam no lugar de amantes em quem se encontra todos os caminhos do prazer que oscilam entre tomar a iniciativa e deixar que ele a possua. De mandar às favas timidez e pudor, sem sentir receio de entregar seu eu mais íntimo a um másculo que se derreta na paixão. Com mais astúcia do que com truques, ingressar num prazer sem culpa, em que o desforço físico é o reflexo de um amor sem limites, os desejos apenas se devoram e se satisfazem, acalmando o espírito.
Os homens torcem o nariz quando sua essência é objeto de críticas. Pior quando a mulher o faz, pois parte de suas próprias decepções amorosas. Por ser corporativista, ele evita olhar para dentro de si. Sendo determinante no desgoverno que desarmoniza e dificulta o afeto nas relações, arrastando-os para o olho do furacão. O dilema de Brecht no seu teatro.
Brecht dizia que o teatro devia divertir, sempre. Ocorre que o público associa Brecht a engajamento e não a divertimento. Seu nome é mais facilmente ligado a causas sociais e políticas. Por que quase sempre se vincula divertimento a alienação ou fuga da realidade? Os americanos preferem chamar de entretenimento e relegar a platéia à passividade de meros consumidores.
Se arte é engajamento ou entretenimento, a mesma dúvida recai sobre o homem no que tange a relacionamentos. Se é para se comprometer ou divertir. Se bem que compromisso só ganha materialidade quando se vive junto sob o mesmo teto, emparedados na felicidade. O divertir pressupõe que a relação contém um prazer autêntico borbulhando nos inúmeros brindes que erguerão em homenagem a ambos necessitarem um do outro para encher suas vidas de encanto. Um abalo sísmico sobreviria se tentassem quebrar a magia daquele prazer.
Será que os espectadores escolhem os espetáculos a que querem assistir? Para Brecht, tão importante quanto desenvolver a arte no palco era desenvolver a arte dos espectadores. Ele os queria despertos e que não deixassem sua consciência junto com os casacos na porta dos teatros. Tarefa quase irrealizável. Resta saber que tipo de diversão convém ao homem.