Do que o homem é capaz para dar vazão às suas ambições rumo ao poder, não sem a passagem obrigatória pelo prazer do sexo de quem inadvertidamente cruzar seu caminho? Haja imaginação para justificar vilanias, tentando acobertar podres aos borbotões, que se desvirtuam em mentiras patológicas que transformam o autor em monstruoso ser, no afã de salvar a pele e o bolso. Manter a reputação intacta. Na missão impossível de não trazer ao conhecimento do eleitor infidelidades, adultérios e a depravação dos costumes.
O trono em questão é do presidente dos Estados Unidos da América.
Dois personagens. O ex-senador americano John Edwards, candidato a vice-presidente dos EUA na chapa de John Kerry em 2004 e o queridinho de uma boa parcela do eleitorado jovem e progressista à indicação democrata para presidente em 2008, até o surgimento meteórico de Barack Obama. O outro ator é Andrew Young, o ambicioso braço direito do político que teve sua oportunidade de ouro para provar sua eficiência e lealdade canina ao chefe, quando Edwards, aos 52 anos, casado há 30 anos, iniciou um romance com Rielle Hunter – videasta de sua campanha.
Encarregado de afugentar bisbilhoteiros e pilotar o celular exclusivo de comunicação entre o milionário senador e Rielle, Young acabou se tornando o confidente dos segredos íntimos do patrão. Além de consumir 16 horas de jornada de trabalho para angariar milhões de dólares em contribuições para as diversas causas de Edwards. Mostrou sua dedicação absoluta no instante em que a senhora Elizabeth Edwards interceptou uma ligação da loira amante para o marido, sustentando a versão de que quem tinha um caso com Rielle era ele – o assessor de mil e uma utilidades.
Casado e pai de três filhos, Young convenceu a própria esposa de seu falso papel de amante para preservar a imagem do chefe. Quando Rielle ficou grávida, Edwards ordenou a Andrew Young que assumisse a paternidade da criança e comunicasse à senhora Cheri Young que a amante de seu senhor e dono passaria a morar com eles durante a gravidez. Por nove meses, a família Young e agregados foram retirados de circulação e deslocados para mansões na Carolina do Norte e na Califórnia, com todo o conforto para calar Rielle. Sob a promessa de o exílio terminar tão pronto John Edwards fosse escolhido para ser vice na chapa de Obama.
Somente quando foi descartado da disputa presidencial é que Edwards admitiu publicamente sua relação extraconjugal com Rielle, interrompendo o frenético esquema de blindagem em que chegou a incumbir seu pau-mandado de achar um médico para falsificar o exame de DNA do seu filho.
A vida privada de um político deve ser do conhecimento do eleitor, a fim de que ele fique bem informado e examine do que é capaz e até onde pode ir quem deseja representá-lo, munido de tanto entusiasmo e gana que chegam a confundir o cidadão de bem. Se são ideais que estão em jogo e em favor de causa própria também. E se, ocorrendo desvios comportamentais, é por puro amor ou se corre nas veias o sexo desvairado que conecta orgia ao poder. A privacidade nas coisas públicas não tem trazido bem-estar e tranquilidade à população.