A excelência de “Dois Papas” se deve sobretudo ao magnífico escritor Anthony McCarten, que também foi roteirista de prodigiosos filmes como “Bohemian Rhapsody” (2018), “O destino de uma nação” (de 2017, sobre Churchill, quando decide ingressar a Inglaterra na 2ª Guerra Mundial) e “A Teoria de Tudo” (de 2014, a vida de Stephen Hawking). Daí o consagrado diretor brasileiro Fernando Meirelles não ter sido relacionado, a despeito de “Dois Papas” concorrer ao melhor drama indicado ao Globo de Ouro. McCarten cria os diálogos magníficos entre os dois papas a partir da reconstituição brilhante da biografia política de ambos, desde a decisão chocante do papa Bento XVI de renunciar ao papado em 2013, com o Banco do Vaticano mergulhado em escândalos financeiros e seus assessores presos, além de encobrir crimes de pedofilia cometidos por clérigos de toda a ordem ao longo de décadas. O papa Francisco é impiedosamente dissecado diante das torturas da ditadura argentina quando ainda era cardeal e posteriormente execrado e isolado nos confins da Argentina. Em desempenho extraordinário, Jonathan Price, no papel de papa Francisco, engole Anthony Hopkins como o “papa nazista”. Um colírio poder conhecer Castel Gandolfo, o palácio de verão dos papas. Muito bem reproduzida a votação papal no Vaticano até que a fumaça branca reveladora de Habemos Papam se insurja da chaminé. Um filme emocionante e que evoca perdão, pois não existe santo padre. Todos somos humanos.