No norte da África, primeiro foi a Tunísia que se insurgiu contra ditadores, depois o Egito com sua imensa população pobre e agora a Líbia, cuja identidade nacional ainda é regulada por rivalidades tribais antigas e onde não há padrões governamentais estabelecidos. À mercê do ditador Kadhafi desde 1969, que não hesita em bombardear alvos civis na capital Trípoli para conter os manifestantes que querem vê-lo longe – na Venezuela. Se é capaz de convocar mercenários na Guiné e na Nigéria a 2 mil dólares ao dia e cometer genocídio, não deixa a menor dúvida sobre a autoria do atentado ao avião da Pan Am em 1988, em que explodiu com 270 pessoas no céu da Escócia. A Líbia depende do petróleo para sobreviver e Kadhafi promete morrer como mártir até a última bala. É muito dinheiro em jogo para entregar de mão beijada ao povo líbio, que não soube cuidar de seu destino por sua própria cabeça. Os muçulmanos, como um todo, caíram na esparrela do discurso nacionalista e anti-imperialista desses ditadores, sob as bênçãos de Alá, e somente agora resolveram se sublevar contra a espoliação, a degola e a humilhação praticada por sua própria gente. Tal como na época das repúblicas das bananas na América Central e do Sul, quando o suposto inimigo era o comunismo. A democracia é encarada nas possessões de Alá como um valor ocidental. Isso, pra mudar, vai demorar tanto quanto a água jorrar no deserto. Só em oásis.