Preciso que renda
a minha fonte de vida.
A minha frente,
na minha fronte,
sem renda,
só vida e dívida,
em fonte arial,
nessa página preenchida.
Poesia dá renda?
Não sei, mas é transparente.
Você não a sente?
Minha frente colorida?
O verso também convida,
com vida.
Preciso de outra fonte de renda.
Preciso que renda
a minha fonte de vida.
Escrevi este poema antes de 2012. Ele foi publicado no meu segundo livro, “Puro Instinto”, lançado originalmente com coordenação editorial do Delmo Fonseca… Eis uma pessoa que sumiu do meio literário, infelizmente. Sou muito grata a ele, pois, depois do meu amado mestre Cairo Trindade, que sempre me ensinou e me orientou na literatura, Delmo foi o terceiro a ver potencial comercial em mim como escritora, me convidando e investindo em mim como autora da Editora Sapere. E estava certo. Imprimiu apenas 230 livros para o lançamento. Perguntou pra minha mãe:
_ Você não vai comprar o seu?
_ Vou deixar pra depois. – ela respondeu.
E sim, ela comprou, mas só depois que eu já tinha vendido toda a primeira tiragem assim, num só primeiro dia.
O primeiro a pagar pelos meus poemas e sempre me incentivar a persistir foi o Antônio Carlos Gaio, que existe em minha vida desde antes de eu nascer, através de sua íntima convivência com meus pais.
Ao ler meus poemas pela primeira vez, Gaio me convidou pra degustar deliciosas pizzas na Pizzaria Braz do Jardim Botânico e, num longo e afetuoso papo, me contou de quando ele escrevia junto com meu pai, num jornal, e o quanto ele via em mim e na minha escrita, traços da intelectualidade e eloquência de meu pai casados com a espontaneidade e questionadora alegria do belo vulcão que é minha mãe. E foi assim que ele me incentivou a ir além do que estava ali, além do que meus próprios progenitores enxergavam em mim, através de uma valorização mensal e sem preço que ele vem me dando financeiramente desde 2008, quando comecei minhas colunas no seu Jornal DuGaio.
Por tantas vezes, para não dizer por toda minha vida até aqui, duvidei de que eu poderia sim me sustentar exercendo meu maior dom e prazer, que é escrever. Em todas essas vezes, mesmo sem saber – ou será que ele sempre soube? – Gaio esteve lá para me mostrar que meus pais estavam errados em suas crenças limitantes, achando que isso era um sonho fora da realidade. O que ele me paga, foi o valor que sustentou a taxa mensal do condomínio e parte do aluguel do apartamento que dividi com meu marido por 3 anos, antes de eu voltar para a casa da minha mãe.
Agora estou aqui, no ventre materno que mais uma vez precisa de mim e eu dele. Vim com marido e dois filhos cachorros. E, nestas condições, mais uma vez, é o justo valor que o Gaio me dá, que está me ajudando a investir na minha microempresa como Editora Independente. Graças à 6 consecutivos anos de terapia com a amada Corrita, outro anjo em minha vida, hoje não tenho tantas dúvidas. A espiritualidade também se abriu em minha vida. O Reiki abriu e harmonizou meus chakras e despertou um caminho sem volta.
Hoje troquei a revolta e o obscurantismo, a falta de autoconsciência por presença constante dentro de mim. Consigo me olhar de fora, não mais com olhos de quem não reconhece em mim o que sempre fui, não como quem teme que eu não corresponda às cobranças do mundo e me humilhe ou me julgue por eu ter mamado tanto tempo nas tetas de quem me pariu. Eu trabalho desde os 19 anos, mas minha mãe parou de me dar leite antes mesmo de um mês de vida. Eu nasci de 8 meses e fiquei um bom tempo mamando ar, sem nem minha mãe saber. Freud explica. Depois eu volto pra este detalhe.
O que quero dizer com este longo relato depois do poema Fonte de Renda, escrito há mais de 10 anos, é que hoje minha fonte não secou, pelo contrário. Eu não só preciso como consigo fazer render minha fonte de vida, que é escrever. Ainda tenho muita vida para render. Muita rima para vender. Muita cachoeira pra rimar e muitas dívidas a honrar, mas quitei a principal delas: a antes eterna dívida comigo mesma. Não só quitei. Hoje tenho crédito. Tenho mérito. Porque faço o que sempre poderia ter feito e não sabia. O que era fácil e eu não via, o que sempre foi para mim magia. Escrever. Esta é minha maior alegria.
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