Eu me achava humilde,
mas era soberba,
só bêbada de ilusões
sobre a vida e sobre os outros,
sobretudo sobre mim.
Eu acreditava que estava sempre certa
em me achar errada e inferior,
que eu era uma pobre-coitada,
que não fez bom uso do que ganhou.
Eu realmente me achava humilde
e estava enganada.
Eu, sim, era mal-acostumada
a olhar pra mim como quem falhou.
Acreditar que era menor que todos,
uma flor que não desabrochou.
Meu caminho era esse
para chegar até aqui,
escrever o que vivi.
Se não doesse, não escreveria,
sequer seria como hoje sou.
Aquela que escutou
sempre muitos elogios
por ser “boazinha”.
Por sempre ceder,
fazer de tudo
pela companhia…
“De boa” mesmo,
o que eu queria
era ser amada
e validada
e não respeitada
como hoje sou
ou estou em processo.
Não almejo sucesso,
o merecimento vem
quando se segue em frente,
sem retrocesso.
Agora enxergo
muito do que não vi antes,
o quanto eu, eterna infante,
não saía do berço, não crescia,
me achava humilde e me afogava
numa bacia vazia,
no escuro do olho que não via
a própria sombra em agonia.
E a imensa luz que aqui jazia
tão lá trancada e apagada
essa minha paz que é puro amor…
Hoje sim
tô empoderada.
Eu não quero ser nada.
Simplesmente EU SOU.