“Edmundo não sabe o que faz” é um sucesso de Elza Soares cantado na peça “Crioula”. O grande amor da vida de Elza foi Garrincha. Ele e Edmundo, dois belos espécimes de uma raça em extinção. Só Garrincha, em sua malandragem de alma virgem, poderia sacramentar as travessuras do Animal como coisa de viado.
Longe de mim ofender o meu ídolo Edmundo, que não tem a cara do Flamengo e muito menos do seu presidente Edmundo Santos, que parece sim com o Groucho Marx. Não faz tanto tempo assim que Edmundo deixou de freqüentar os bancos escolares para se esquecer de que brigar por braçadeira de capitão é coisa de maricas. Na hora do recreio, seria alvo de gozações e pichações em que não caberiam processos na justiça.
Para quem se orgulhava do culto ao bad boy e animal, causou estranheza sua reação diante da charge dele e da Cristina Mortágua na porta do banheiro do Bar Café Gol, idealizada pelo seu antigo companheiro de rap. Se a charge fosse da autoria de Chico Caruso, aí sim, eu tremeria de medo! Essa postura em defesa da tradicional família não combina com seu jeito de matador e de enfiar gols, seja qual for o adversário, por entre as pernas e com bola e tudo no saco.
Seu egocentrismo chega ao ponto de o Vasco ter contratado Romário, seu principal desafeto, contra a sua vontade. Ele não achou justo que um cara que chegou ontem fique com todas as coisas boas, como a insígnia de capitão. É preciso que se informe ao Edmundo de que capitão não está com mais nada na ordem do dia. Os últimos capitães de que se tem notícia, um virou réu por não saber lidar com bombinhas no Riocentro e o outro ameaçou fuzilar o presidente.
Edmundo queixa-se de que Romário fazia juras de amor ao Flamengo, afirmando que iria terminar seu reinado no covil dos urubus. “Ele tirou de mim em um mês o que eu levei 10 anos para alcançar. Tenho amor e um carinho especial pelo Vasco, onde eu comecei.” Principalmente quando defendia as cores rubro-negras e mostrou as partes pudendas para a torcida vascaína.
Não agüentou a barra de ter perdido o pênalti na final do Mundial de Clubes, ídolos não lidam bem com o fracasso. Tanto que solicitou 30 dias de licença para se recuperar da tristeza pela derrota e tentou desesperadamente recorrer ao futebol italiano, para lá se refugiar – enquanto Romário marcava gols pelo Torneio Rio-São Paulo. Aos 29 anos, constatou que o que ofereciam era pouco e que Parmalat e Edmundo não dão para fazer um milk-shake. Largou Angra e futevôlei, pois o rival se tornara o artilheiro.
“Quando vi que ele era o capitão, eu me senti como o cara que chega em casa e encontra a mulher com outro homem na cama.” Romário armou para que as coisas chegassem a esse ponto e ele saísse do Vasco. Dá vontade de chamar Spartacus para pegar o Edmundo pelas orelhas e mostrar o que é ser escravo.
Como seu álibi, poderia invocar a figura paternal de Eurico Miranda, que o fez pensar que era dono do Vasco também. Pareciam gozar de um alto grau de identidade, o mesmo arrebatamento e destemor, de perfil varonil, talhados um para o outro. Eurico lembra certos pais condescendentes com o filho favorito e exigentes demais com os outros.
Você me deixa confuso, Edmundo, porque só fala de amor e ódio nas relações entre amigos, entre jogadores e clubes no mundo do futebol, cruelmente machista. Rebolando em cada comemoração de gol.
– Perdoe-me por eu te trair, amore mio, mas não foi minha intenção te ofender. Mas é que as mulheres estão muito preocupadas com o nosso futuro, de tanto ouvirem que “é coisa de viado”. Quantas vezes fiquei rouco gritando seu nome, entrei nas divididas junto com você e me indignei com as injustas expulsões.
Não foi à toa que Raul Seixas, tão bem retratado por Roberto Bomtempo em sua peça, se retirou da vida mais cedo. Com sua visão profética, anteviu que o seu maluco-beleza sofreria transformações genéticas, passando de bicho-grilo para pitboy.