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EFEITO CIRO

Responsabilizado pelos tremores no mercado por ter chamado de desastroso o acordo do Brasil com o FMI, sempre subordinado aos interesses da comunidade financeira internacional e da ALCA, o indomesticável Ciro reproduz o famoso Rei da Pérsia em 539 a.C., ao expandir seus domínios no atual Irã e conquistar Babilônia, a poderosa cidade que dominava a Mesopotâmia, movido pela necessidade de achar terras férteis para instalar as tribos persas em rápido crescimento populacional. Conhecedor da arte do cerco, utilizou-se da tática de assalto com arqueiros montados e combate maciço para depois tratar bem os vencidos e respeitar seus costumes. Sua política de tolerância religiosa, que permitiu aos judeus voltarem a Jerusalém, provocou uma fermentação filosófica, científica, econômica e religiosa de raízes profundas na origem das nações mais antigas do mundo. Ciro, o Grande, fomentou os sonhos universalistas de Alexandre e de Roma.
Do mesmo quilate, Ciro rebela-se contra a hegemonia do império empenhado em combater o Eixo do Mal. Ao dizer que não há motivo para comemorar empréstimos que cubram gastos de um sujeito endividado, se só o que se demonstra é o prestígio do atual governo junto às instituições internacionais para evitar corralitos e congelamento de bens, enquanto a Argentina não leva nada.
Por que os EUA municiam o Brasil? Porque tem sido bonzinho, abriu seu mercado, combateu a inflação e procurou o rigor fiscal, ao contrário dos milongueiros que deram calote, congelaram contas correntes e se recusaram a levar adiante reformas econômicas ao agrado da matrix. Um colapso no gigante que nasceu em berço esplêndido seria mais assustador que o tamanho da dívida externa atual de US$ 280 bilhões – o dobro do débito argentino equivalente a 2/3 do que produz -, e poria em posição de risco bancos americanos como o Citigroup, Morgan Chase e Boston, e indústrias que gastaram bilhões em expansões de fábricas no Brasil como a GM. Justificando o lobby para conter a ameaça de afastar o país do livre mercado conforme traçado por Bush para a área livre de comércio das Américas. Haja liberdade para se administrar e tomar conta.
A desvalorização crescente do dólar e a repercussão na Bolsa de Valores, embora pareçam efeitos sonoros de radionovela quando o contra-regra agitava a folha de zinco para simular uma tempestade, na verdade, representa uma intervenção de caráter manipulador quanto autocrático, que contraria o regime de concorrência perfeita idealizado por John Adams e Ricardo, pelo qual babava o imortal Roberto Campos. A sinalizar que os candidatos postos na mesa presidencial não lhe agradam porque não seguirão o receituário prescrito como nos últimos 8 anos o foi religiosamente.
Do ovo da serpente, nasceu uma cultura, sem paralelo, de seqüestros em massa na paulicéia desvairada, armazenando as vítimas em motéis improvisados cuja decoração reflete o labirinto da mente de seus mentores. Gerou tresloucadas atitudes de traficantes no Rio de Janeiro, que fecham túneis, bloqueiam auto-estradas e tomam ônibus emprestados, com trocador e tudo, para cheirar até o baile funk in, no calibre certo para arregimentar novos soldados e aliciar menores como escravas do sexo em troca do modelo produzido de superbonita.
A guinada nos costumes representa a revolta e inconformismo quanto à exploração dos negócios no Brasil, especialmente os paralelos, a sonegação, a evasão de divisas e os paraísos fiscais lavam o dinheiro melhor que qualquer sabão em pó. E nada acontece. Quando prendem, solta-se, o dinheiro sequer é recambiado ou recuperado. Diante de tais exemplos dignificantes, surpreende a crescente politização do brasileiro, desprezando a panacéia da internacionalização de nossa economia, visto que vendeu-se o arsenal das estatais brasileiras, patrimônio fiado pelo BNDES, e nem por isso amortizamos a dívida externa nem investimos o suficiente para dar na vista e aumentar o nível de emprego.
Para não dizer que falei de flores, a questão agrária patina, os salários públicos se encontram estacionados na periferia, somos quase auto-suficientes no petróleo, mas afundamos plataformas submarinas enquanto os petrodólares desviam-se, à velocidade dos espermatozóides, para a conta Juros. O que deleita banqueiros e especuladores, sem querer grudar a goiabada no queijo, que só se saciam com o fluxo sanguíneo intermitente, no máximo fazem vista grossa para a menstruação, dia em que suspendem o pregão. Menopausa nem pensar e TPM são os temblores do mercado, agüenta-se e assimila-se.
É justamente no ponto G que é melhor ouvir a bela Carolina Ferraz, após descer de helicóptero, trazida de São Paulo por Alexandre Accioly, para sua festa de 40 anos na Ilha Fiscal – não foi a última, a vida começa aos 40. Carolina nada tem a declarar sobre política, mas afirma que o mal de alguns artistas é achar que sabem lidar com a mídia, e o da mídia, é achar que sabe lidar com a gente.
E o efeito Ciro? Aguarda-se Patrícia Pillar entrar em cena.

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Antonio Carlos Gaio
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