Recebi uma carta em defesa do candidato de extrema-direita de uma ex-amiga, que virou desafeto. Veja para onde sua bagagem intelectual já se escoou. “Sou contra a violência. Acredito que se justificarmos o ato sórdido (o esfaqueamento) porque a vítima é de direita, também ficaremos obrigados a aceitar ataques a um representante da esquerda. Em círculos concêntricos, a violência cresce, os motivos e as justificativas também e, subitamente, os agredidos serão os nossos filhos e netos, sem que tenhamos a quem nos queixar. Assustei-me com a reação das redes sociais. As pessoas pareciam não entender que o esfaqueado não era somente um político que, para uma parcela da população, defende ideias indefensáveis. Quem quase morria era um homem, um filho, um pai de família, um marido, um irmão. O país e a democracia sangraram em Juiz de Fora. Quem já perdeu alguém muito próximo e muito amado conhece a imensidão da dor”. Comovente sua hipócrita declaração contra a violência, apelando para a pieguice, lugar-comum e valores familiares, que nem preza tanto assim. Em nenhum momento ela considera que o discurso machista do dito cujo é centrado na apologia em armar a população, transformando o país em bangue-bangue e eliminando todas as minorias e diversidades, quando a própria mulher já forma maioria. “Assustei-me também com a ignorância da novíssima geração de brasileiros, rapazes e moças que falavam do passado repetindo frases feitas, tolices inimagináveis, sem sequer ter o cuidado de pesquisar por conta própria aquilo que assinavam. Eles e elas são o futuro do país. Mas como são tolos… O problema é que a internet tornou a idiotice pública”. Num primeiro instante, parece até que ela está fazendo referência ao eleitorado do troglodita, em seu pensamento conservador contra os jovens, além de retrógrado, encarquilhado e sem viço. Idiotice e espelho, ambos precisam se conversar. “Enfim, discordo de que Bolsonaro é o instigador da violência. Quem começou a empurrar brasileiros contra brasileiros foi o PT com a história do nós contra eles. Lula afirmava que a culpa das nossas mazelas era da elite branca, cansou de dizer, dentre outras preciosidades imbecis, que os ricos não se conformavam de o pobre viajar de avião. Na verdade, a nossa esquerda rejeita a alternância de poder que caracteriza os regimes realmente democráticos”. Mas o poder foi todo conquistado no voto! Lula precisou perder três eleições consecutivas! “Sabem do que mais? Eu tenho horror ao Estado paquidérmico e oneroso que a esquerda adora. Horror ao discurso bonzinho que absolve os bandidos, vítimas da sociedade. Horror da escola com partido, horror da ideologia de gênero, horror de quase tudo que o Bolsonaro pretende combater”. Contra a violência, falso testemunha, ao mesmo tempo que a nazifascista apoia a política de extermínio, extensivo à diversidade sexual, horrorizada com a liberdade de expressão nas escolas, só faltando mandar as crianças estudarem em instituições militares. Quando o misógino está sendo duramente atacado por mulheres dignas, dentre as 52% que formam maioria na sociedade. Está tendo o que merece. Colhendo o que plantou. Como é que pode mulher votar no candidato nazista? É muita falta de amor-próprio, de dignidade, de respeito por si própria. É se considerar um lixo, produto desvalorizado, se conformar em depender da pensão de militar para poder sobreviver, girar em torno do homem, abarrotar sua personalidade com coisa ruim. É tornar nula sua sexualidade ou admitir que nunca foi nada, se não almeja ter independência e se conformar em se restringir ao segundo plano, dando péssimo exemplo a seus filhos e netos com uma biografia de causar asco e macular esta encarnação. Segundo Fernanda Montenegro, a mulher que se respeita não pode votar em Bolsonaro.