Uma consistente defesa da nossa nostalgia: é gostoso ser nostálgico quando se envelhece para dar valor ao que não tivemos tempo ou sabedoria para “curtir”. O idoso é muito achincalhado quando acusado de viver de suas reminiscências ou só do passado, ao consumir sua parcela final de vida, por vezes elástica, a enaltecer tudo que era melhor do que a realidade atual. Quando jovem em priscas eras, não lhe sobrava tempo para fazer tudo o que desejava, ou se descolava um tempo malandro, não atinava com o que poderia levar a cabo. 24 horas para aproveitar o dia e a noite, descontado o período reservado para o sono, estudar, trabalhar, namorar e gastar suas energias no que for, sem ter experiência ou traquejo para se livrar de enrascadas, não propicia espaço para a sabedoria se criar e assimilar os fatos que se desenrolam à sua frente em velocidade de um filme denso e rico de alternativas, com tantas informações implícitas, nem sempre subentendidas, e que te obriga a ler nas entrelinhas. Daí ser necessário rever conceitos quando se acentuam as dores nos ligamentos do corpo, o aperto no coração e a digestão não ser proporcional ao prazer do repasto. Você já transcendeu e ainda não lhe foi informado, nem o será, pois agora sua viagem no tempo prosseguirá por conta exclusiva de sua sabedoria no piloto automático de sua nostalgia, reverberando forte em lugar do corpo que começa a dar sinais de cansaço, desfalecendo por não ter mais o mesmo ardor de antes para defender suas convicções. Eis que a nostalgia vem e inunda seus pensamentos com lembranças que ressaltam seu histórico de vida, verdadeiras preciosidades que, se souber compô-las, formarão um mosaico cuja interpretação dependerá de como as nostalgias irão preencher sua alma e para onde o levarão. Desfaçamo-nos da nostalgia melancólica e adiramos à nostalgia saudosa de um tempo em que se era feliz e não sabia, vibrando com cada desafio novo, mas sem mais a companhia da angústia que norteava o medo do futuro.