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ENTERRANDO O NARCISISMO

Ísis de Oliveira era deslumbrante, um colírio para os olhos. Sem talento na TV, tentava descobrir qual era o veio daquela mina, quando foi submetida a uma operação para implante de uma espiral de platina na coluna cervical. Posteriormente, veio o enfarte e, na seqüência, perdeu o irmão, a mãe e o pai. Uma provação atrás da outra.
Acabou vítima da síndrome do pânico, ficando dois anos reclusa em casa, sem sair para canto algum. Desligou o celular e chegou a trocar o sofá duas vezes, porque passava o dia sentada no mesmo lugar. Dormia, muitas vezes, com roupa de sair.
 Maria Cláudia ainda conserva a beleza que a tornou famosa na Globo. Um depois do outro, perdeu pai, mãe e a melhor amiga, que considerava irmã de sangue. Pensou ter sido o último golpe em 1984, mas ficou sem voz, justo no réveillon. Embora dissessem que era câncer, pensou ser tudo emocional. Sobreveio-lhe uma sensação de orfandade, como filha única. Foi-se tudo que tinha na vida.
Depois de muitas injeções, cirurgias, inclusive espirituais, sete anos transcorreram tratando as cordas vocais, para não conseguir se livrar totalmente da rouquidão. Pedra que não rola cria limo, chegou a hora de arriscar, pois nascer, viver e morrer no mesmo lugar é muito limitador. Adequou-se à voz das cavernas, que ecoa em casarões antigos de pé-direito alto. Exagero de perfeccionista, pois se estamos cercados de pato rouco, quando não é o presidente, é apresentadora de mesa-redonda, cantor, fumante inveterado, ah, se o diabo falasse!
Portas se fecham, mas também se abrem, enquanto estiver vivo. E pensar que a geração de Maria Cláudia queria mudar o mundo, cerrando fileiras com John Lennon no seu hino “Imagine”.
E quem não tem fama, um séquito de fãs a puxar a fila? Como o rapaz tímido, rico, bonito e talentosíssimo, um ilustre desconhecido. Prometeram-lhe o céu e a terra, quando não o reconheceram como um gênio. Com padrões tão altos, tudo o que viesse, sucesso, elogios, assédio, mídia, mulheres ou homens, ser-lhe-ia pouco. Cada um é infeliz à sua maneira. E não existe coisa mais triste do que homossexualidade reprimida. Matou-se por narcisismo.
É mais difícil recomeçar do que começar.

Antonio Carlos Gaio:
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