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ESPIRAL SEM FIM

Qual o seu preço? Quer pagar quanto? Se olhou, gostou, pode levar! Tudo está a seu alcance. E a imagem de integridade da Justiça indo para a cucuia. A sensação de impunidade abala nossas convicções, a mão forte da Justiça sua espavorida de vergonha por não dar conta do destrambelhamento de homens e mulheres que não se pejam em legar um futuro corrupto a seus filhos. Enquanto houver primeira instância, segunda instância, agravo, desagravo, embargo, recurso, ir ao Supremo, enfim, tudo que se relacionar ao direito de defesa do acusado e em havendo dinheiro para pagar aos advogados, ele permanecerá livre pelo menos uns bons dez anos.
Juízes andam à solta. Relaxam prisões com alvarás de soltura negociados no mercado negro do Judiciário. Escorcham empresários no brandir de mandados de prisão. Vendem sentenças e engavetam processos de ex-governadores, ex-senadores e qualquer um que se disponha a pagar o seu peso em ouro. Com que falta de vontade se rastejam às odes malufistas com medo de descobrirem o que já é do conhecimento geral, fazendo ouvido de mercador para o descrédito e a chacota.
Mandados de busca e apreensão encontram tesouros das arábias, pilhas de dólares e euros, moedas de ouro de diversos países, comprovantes de depósitos bancários, livros de capa preta com a escrituração contábil das transações, além de nomes de empresas e pessoas que pagaram à organização – o propinoduto – e receberam o produto do assalto ao Estado.
É fato corriqueiro gravar as próprias conversas no telefone. Ninguém confia em ninguém. Seguro morreu de velho, abrem-se dossiês para incriminar um futuro inimigo que ainda é amigo, arte de guerra desenvolvida pelo eminente filósofo Antônio Carlos Magalhães.
A voracidade com que atuam alcança até contrabandistas que pagam em mercadoria viva, como televisões de tela plana, engrolando delegados que viram temas de filme por se venderem barato no festival de varejo que domina a repressão ao crime organizado. Com detetives desse naipe, dá até para desconfiar que derreteram a Jules Rimet. E a Taça do Mundo deixou de ser nossa.
Examinem se na campanha eleitoral para a OAB os nobres colegas propugnam pelo fim do corporativismo. Por eliminar os focos e fazer a assepsia da classe. Se preocupam mais em assegurar o direito de defesa do que com o desregramento da ética advocatícia.
Hoje é praxe figuras eminentes do aparelho judiciário se casarem entre si para aumentar a renda mensal da família. É quando constatam que o que ganham não é suficiente. Atuam em Brasília, no Piauí, Espírito Santo, onde pintar um bom negócio para soltar traficante de drogas, adulterador de combustível, banqueiro. Nem mesmo postos atrás das grades os magistrados deixam de receber seus polpudos salários; na dúvida, pró-réu. Os mesmos vencimentos que os levaram o procurar a livre iniciativa.
E pensar que impichamos um presidente da República pela primeira vez e jogamos fora, como uma casca de banana, a chance de ver um dos poderes atrás das grades. O caçador de marajás, no inconsciente coletivo do eleitor, contemplando o sol nascer quadrado. No entanto, o receio em quebrar o equilíbrio e a harmonia entre os três poderes pesou na balança da Justiça. Afinal de contas, nunca se sabe o dia de amanhã, um dia é da caça, o outro é do caçador. O temor em ser futuro alvo de fritura, por mais que nada se tenha a dever, tira o crédito nas instituições públicas e mantém a corrupção aquecida, pondo o Brasil nas alturas quando se fala em criminalidade. Ativa e passiva. Preta ou branca. Requintada ou bárbara. Limpa ou suja. A que induz a um ato de violência, em resposta, a título de cortar o mal pela raiz. E o crime atingir seus objetivos.
No exame dos computadores pessoais de juízes foram encontradas sentenças muito bem fundamentadas, que se transformaram em obra-prima do gangsterismo que somente a caixa-preta do Judiciário pode desvelar. Preocupados em fazer reparos à sucessão de um monarca por um messias investido da figura de presidente, não olharam para o próprio rabo e acabaram engolidos pela anaconda.

Antonio Carlos Gaio:
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