Não dá para entender o caráter do ser humano que distingue entre quem está na ativa, dando duro, pegando no pesado, queimando a mufa, suando o sangue que a terra há de comer, tirando leite de pedra, comendo o pão que o diabo amassou. E o aposentado, considerado pé-na-cova, morto de fome, doente, inútil, enfim, não tem futuro. Lembra o vizinho da esquina, que já foi patrão e faliu, e agora torce pro pai morrer e herdar um jabaculê.
Como se a velhice não fosse um mal necessário, uma passagem obrigatória a fim de trocar o bastão de mãos, um dia você está por cima, no amanhã por baixo. A morte é a única certeza onde não se corre o risco de errar, mas não passa pela cabeça de ninguém que a sua hora vai chegar. A de ser preterido. Parece que não têm pai, mãe, vozão, vozinha, a família que restará na memória. Idoso, então, nem pensar, haja vista o ministro que anunciou o novo mínimo, no nível da indigência. Péssima escolha do presidente em escudar-se no Berzoini. Quando nos envergonhamos, somos capazes de atitudes que só aumentam a dimensão do erro.
Mas há que pensar grande, o Brasil agora é uma empresa, somente faturando alto para ultrapassar o limite de sobrevivência. Tese de FHC, que não tem mãos para esfregar de contentamento, abanar o FMI no contexto sociológico do endividamento, e contar os 50 mil dólares que cobra por palestra para vender o Brasil a investidores. É de nos embasbacar um político sem voto virar cidadão comum, nos dá a sensação de que sobra hora no seu relógio, indefinido entre o dolce far niente e o ócio criativo.
Transcorrido o período de vida útil do empregado, há um consenso nos padrões de gestão dos negócios em promover o desconto, a desvalorização, o rebaixamento, a diminuição, o aviltamento da sua remuneração, por ele não fazer nada. Incapaz, desatualizado, irritadiço, propenso a enfarte, não faz jus à paga, mesmo que tenha contribuído 35 anos. Se o país exige sacrifícios, nada mais justo para quem não trabalha mais que pague a conta, tape buracos, salde débitos contraídos por economistas responsáveis por maravilhosos planos econômicos avalizados por votos chorados que derramamos no mercadão das eleições.
Economistas que se transformarão em empresários, associados a políticos, formando uma corrente de patrões pra frente em prol do salário mínimo mínimo. Na defesa do pensamento micro do português do bar de que não se pode gastar mais do que se arrecada. Os bancos é que não metem a mão nessa cumbuca, o que vem de baixo não os atinge, o pai de todos zela pelo nosso patrimônio, se dívidas não houver.
O patrão versus o operário, os sindicatos, a classe trabalhadora, que reclamava um trocado de 100 dólares para sustentar a pobreza. Desfez-se um quê de esquizofrenia e o operário virou presidente. Não se espanta mais com 18 milhões que declaram imposto de renda, uma farsa para tungar uma merreca na fonte de cidadãos que mal conseguem fechar o seu orçamento. Uma malta que não tem crédito nos bancos para empenhar seus recursos naturais. O endividamento é a melhor saída para crescer e desenvolver, o Brasil é pródigo nos exemplos. Os maiores larápios se criaram em falências oriundas de empréstimos com juros favorecidos de bancos oficiais e sonegação fiscal, dando o beiço na Viúva.
“Eu já compreendi, não preciso te perdoar”, chorosa, a mal-amada lastima os salões do poder e da fama, conseguiram desvirtuar o mais infausto dos plebeus. O seu; e o perdeu de vista. Lembrou-se de Mandela, que perdoou 23 anos de confinamento; mas esquecer, jamais.
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