No tempo em que a mulher era submissa ao homem, seus direitos de conduta imaculada se encerravam quando sua virgindade era estourada na lua de mel. A castidade dava lugar a ele se servir dela quanto desejasse. Por isso, o casamento resultava numa ninhada de 10, 15, até 20 filhos. Não sendo absurdo a viúva dançar sobre a sepultura quando ele viesse a morrer por ela ter sofrido tanta imposição, prazer inexistente e maus-tratos ao ter convivido com tamanha lesma. Ou tartaruga? Ou caranguejo, que anda para trás? Como ainda hoje persiste em casamentos arranjados em rincões muçulmanos de varões de quarenta anos com meninas no entorno de 13 anos em troca de um bom dote aos felizes pais da donzela e uma situação confortável à prole que ela irá gerar – ele só fecundará.
Atualmente, a evolução a partir desse quadro resguarda o desejo e a vontade da mulher de buscar o que bem lhe aprouver. Ela até pode admitir uma infidelidade eventual na trajetória de seu relacionamento, desde que não se prolongue a ponto de ter de engolir “a outra”. Ela só não pode admitir que ele leve para a cama onde fornicam uma qualquer ou traí-la com sua melhor amiga; aí é pecado mortal!
A necessidade de corresponder ao papel de macho exigido não só pelo pai e avô, como também pela mãe, no consenso da já sepultada família patriarcal, ocupava todos os neurônios do homem em formação, pouco lhe sobrando espaço para a sensibilidade tomar conta de sua alma, pois tinha uma performance a cumprir – não somente sexual. Ainda mais que sensibilidade era associada à alma feminina, correndo o risco de ser rotulado de afeminado.
À medida que a evolução da mulher foi aliviando o homem dessa carga de cabeça do casal e provedor da família, que lhe era imposta visceralmente, ele ficou sem saber o que fazer para pôr no lugar. Muito embora esse processo em avassaladora marcha não fosse consciente, o que só agravava sua situação. Já que para tanto não fora preparado, ou melhor, educado. Mesmo porque não havia educadores, nem manual de instruções ou mesmo cursos de reaprendizagem ou reorientação de conduta. Sequer psicólogos picaretas oferecendo terapias de reversão sexual a homossexuais (conhecidas como “cura gay”) ou, no outro extremo, estudos com embasamento científico direcionados à dinâmica comportamental para conter a assimilação da enxurrada de estereótipos que gradativamente foram apequenando o homem e o induzindo à violência sexual, como reflexo da não aceitação de seu atual status.
Quem dera, como contumaz sexista que sempre foi, que pudesse dar continuidade às frequentes manobras com que procurava encostar a mulher no seu devido lugar – suspira com ar nostálgico o notório agente da repressão.