A ética é uma só conforme afirmam, indignados, filósofos, colunistas políticos, cidadãos e eleitores, quando, no terreno da divergência, é uma falácia. Você tem a sua noção de ética e eu tenho a minha, e o que é noticiado vale-se da ética da mídia, que segue a ética do patrão.
O que se tenta discutir a respeito de ética é a honestidade de propósitos, constantemente associada à corrupção e ao que foi roubado dos cofres públicos, e que lá foi posto pelo contribuinte. Deveras importante, decerto, justificando toda a indignação.
Mas a falta de ética não se restringe a atos de larápio, aqui e acolá. Engloba os desonestos consigo e com os outros, amiúde e generalizadamente, servindo a interesses ocultos ou mesmo por princípio. Do tanto que mentem, não é crime deixar-se levar pela privação de sentidos para ignorar sua consciência – é tão somente antiético. Mas nem por isso deixam de se indignar quando chamados de desonestos com o resquício que lhes sobrou de ética. Exasperam-se com quem duvide de sua palavra ou os remeta a qualquer detalhe obscuro de seu passado. Gostam de posar de vestais para se iludirem com uma sensação de pureza lavando sua alma de mau caráter.
Portanto, não têm a menor moral para se indignar com a corja voltada para a corrupção, se fazem até pior, que é vender sua alma, os que têm talento. Para depois se tornarem carrascos a um bom preço, caçando corruptos dentro da boa ética. Os que não têm talento se conformam em integrar o rebanho, cantando o Hino Nacional sem se lembrar da letra, na esperança de voltar a um tempo em que valiam mais do que os que hoje deixaram de ser discriminados.
A falta de ética é tão difícil de atestar quanto a falta de caráter, que a precede, porque trama e organiza para os devidos fins. Mas ambas se confundem. O sem caráter é capaz de primar pelo discurso baseado na ética, dignidade e honra, principalmente na política. Desconfiem. Isso nunca dá certo. Consignadas as exceções de praxe, basta aparecer uma boa chance para ferirem a ética, trajados de legalidade e com interesses maiores justificando.
A mais torpe das hipocrisias dos que combatem a falta de ética, dignidade e honra é enfatizar a educação como a panaceia para diminuir o índice de criminalidade e inibir a corrupção, pois não corrige a falta de caráter e reforça a discriminação por sugerir que advém da pobreza o maior celeiro de assaltantes e criminosos, o que é muito coerente com a mentalidade dessa gente que se julga séria e honrada e que não professa o menor interesse em aplacar a injusta distribuição de renda e combater a miséria no Brasil – uma missão impossível e extenuante. Não estão nem um pouco preocupados em dar maior ênfase ao humanismo no coração do estudante e na sua formação cultural, já que, ao final, o que prevalece é a tecnologia e as chamadas ciências exatas para ganhar mais dinheiro, elevar o seu status e pôr as mãos na pior das corrupções: a dos valores morais. Para ser rico e poderoso a qualquer custo.