O homem muito se aproveita da maior queixa da mulher: a falta de homem.
Eles se valem de como a decadência do corpo as abate. Da tristeza que as invade quando cessam os olhares de varrê-las de cima a baixo. Das cantadas que desaparecem. Os elogios, tão fartos e comuns desde a adolescência, praticamente se esgotam a partir dos 40 anos. Ninguém as chama mais de gostosa. Eles as ignoram, tornando-as invisíveis a seus olhos.
Eles igualmente se valem dos homens que abandonaram a difícil arte de satisfazer as mulheres e preferiram os seus iguais. Onde não necessariamente a fidelidade é cultuada e o regime de parceria vigora sem que haja uma ordem moralista a persegui-los e a regular a espécie, nem a predominância de um sexo forte a impor leis para o uso do bem comum: o sexo.
Eles também se valem da debilidade do mercado de casamento. Os homens disponíveis são cada vez mais escassos, excluídos os imprestáveis, que se reproduzem como coelhos. Pouco a pouco, elas vão chegando à conclusão de que é praticamente impossível encontrar um homem interessante que não seja casado ou que não esteja nas mãos de outra; com o correr dos anos, o amante é considerado melhor do que a solidão.
Finalmente, eles se valem da arrancada que a mulher deu para se libertar do jugo do homem no casamento, tornando-se independente e dona de seu nariz. Ficou ao encargo delas distinguir quem merece confiança e se justifica nele investir suas expectativas a respeito de amor. O risco de contrair relações com o homem aumentou. A partir do momento em que eles passaram a se fingir de mortos para não serem atropelados pelo rolo compressor da mulher – elas não sabem com quem estão lidando.