Não existe um homem sequer que consiga ter uma vida sexual sem ser, senão guiada, escalonada por fantasias sexuais, como se estampadas tal qual histórias em quadrinhos, que invadem o inconsciente coletivo dos meninos e dão a partida na arte de tentar realizar as fantasias que engarrafam sua imaginação.
O ato de iniciação é a masturbação. O imberbe senta no trono e põe-se a pensar. Se não se sabe quem primeiro veio ao mundo, se o ovo ou a galinha, a mesma dúvida paira sobre a ereção ou a febril fabricação de enredos grávidos de atrações e desejos. A masturbação se encarrega de concatenar a trama e acelerar a desenvoltura do filme na sua cabeça, sob a pressão de chegar a um happy end que justifique tamanho gozo e descarga espermática.
A tal ponto que alguns não titubeiam: a masturbação é insubstituível! Não é por outro motivo que as fantasias sexuais fazem com que o homem se mantenha vivo. Esperto em suas diabruras. Matreiro nas travessuras com que a mulher perde o humor com facilidade, se ela não é a escolhida para brincar de gato e rato.
Não duvide da sinceridade do homem. Ele quer compartilhar, de coração, suas fantasias sexuais com sua mulher. Se não houver afinidades, procurará fora do contexto. Quando isso acontecer, o interesse acabará e termina virando amigo. O que não é algo necessariamente ruim, apenas muda o estado de sólido para etéreo.
Mas o maior poder que as fantasias sexuais exercem são aquelas ditas ao pé do ouvido. Não necessariamente a serem realizadas. Tal como na masturbação, o papel da fantasia é manter o desejo vivo entre os dois e garantir o amor aceso. Pois mulher nenhuma gosta de se sentir não desejada. Fica possessa e o expulsa de casa, caso contrário, pagará um preço alto pela hipocrisia.
O homem que não se preocupa com o orgasmo da mulher não é um homem de verdade. A grande maioria só se concentra no mundinho de seus espermatozóides e merece a expulsão do reino dos homens. Por mostrar-se acomodado, egoísta e primário. Ou não se sentir responsável pelo prazer da mulher.
O que o homem espera de sua companheira é poder cultivar os seus sonhos no quintal da casa dela. Mesmo os mais estranhos; e ir atrás deles. Ele espera que ela adira à causa com entusiasmo e desembaraço que o surpreenda.
As fantasias sexuais de nada valem se não demonstrarem sua virilidade e a intensidade de seu desejo. Para pôr fogo na caldeira, o combustível tem que queimar as entranhas, sair fumaça pelas ventas e casar a fantasia com a realidade.
No entanto, as fantasias sexuais podem entrar em colapso se a mulher funcionar como mãe na relação, a recriminar o que ele faz de errado, bruto e feio – não existe incesto de mentirinha.
Se o lado prático da mulher prevalecer, as fantasias sexuais encontrarão uma barreira para o homem pular a cerca e dar asas à sua imaginação, no seu afã infinito de tornar sustentável uma leveza de ser que conjumine luxúria e amor. O famoso “comigo tem que ser assim, pão, pão, queijo, queijo!” é considerado pelo homem de uma mediocridade sem par. Soa marcial, burocrático e assexuado, tão-somente ressaltando o irreversível destino de algumas criaturas que preferem boiar em águas mansas à incerteza da busca por prazeres impermeáveis ao sofrimento, inseparável companheiro da condição humana.
Basta não pôr ordem na casa do amor e você ficar em dúvida apenas se é sonho ou fantasia. Um desejo que procura alcançar a todo custo para ser seu ou ideias soltas e incoerentes às quais o espírito se entrega. Não faça distinção.