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FAZER MEIA

A sexualidade dos meninos acende quando começam a comparar o tamanho do pênis num vestiário. Automaticamente, as bundas também são examinadas como quem não quer nada e como se bocetas fossem. Ai daquele que se recusar a ficar nu para não tomar banho na frente do outro. Será acusado de tentar esconder o pau pequeno.
Logo os mais graúdos desafiam os pirralhos, tentando corromper os seus valores ainda mal sedimentados: “Vamos fazer meia?”. Fazer meia consiste numa combinação de primeiro dar a bunda para depois ganhar o direito de meter na bunda de quem te comeu. O problema é definir quem será o primeiro a ficar de quatro ou mesmo de pé, curvado sobre a parede como se fosse ser revistado pela polícia. A hierarquia do mais velho ou o critério do mais parrudo na hora de enfiar fala mais alto. Acaba predominando o mais escolado para dar atrás no acordo e passar para trás o mais inocente. Daí surgindo a figura do otário que se deixa enrabar legal, visto ter consentido em ceder a vez baseado na promessa velhaca. Resultado: se dá mal. É enganado. Abrindo caminho para se iniciar como um escroto e enrabar o próximo. Ou engolir em seco, humilhado, já que não é forte o suficiente para forçar a barra e assumir o papel de homenzinho no lugar de mulherzinha de marmanjo.
Ou seria esse o momento adequado para descobrir a sua verdadeira vocação?
Fazer meia representa um perigo iminente para o garoto que quer ser homem a todo custo e não aguenta esperar. Ainda não tem pau nem peito suficiente para encarar uma prostituta. Ou mesmo potência para estourar o cabaço das meninas. Pode ficar pelo meio do caminho, desaparecendo por entre bocetas e reaparecendo em plena meia, de forma passiva, para caracterizar a adesão não mais ao mero jogo de fazer meia, e sim porque resolveu peitar o duro esporte. Onde só falta reverter em prazer o que já pintou como atração.
Enquanto o falso malandro, que só quer comer e não levar na bunda, relaxa na doce ilusão de que papar o cu de anjo não é ser gay, e sim ser um autêntico macho bissexual, que traça indiscriminadamente os dois sexos, tamanha a sua potência e energia sem limites. Não suspeita do território sem fronteiras em que está ingressando, no qual inevitavelmente virá a fazer meia au complet, à vera e por puro prazer, onde alternará do ser ativo para o passivo e vice-versa, se for o caso, com a veia erótica pulsando de satisfação com o sexo lúdico que pulverizou a falta de escrúpulos inerente ao jogo de fazer meia.
Antonio Carlos Gaio:
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