O Natal é um peso para alguns. Que sentem melancolia. O fim de ano se afigura desconfortável. Ficam loucos para que essa época passe logo. Preferem voltar à rotina o quanto antes, nem que tenham de trabalhar.
Não reconhecem o Natal como uma trégua na guerra surda instalada com a convivência entre estranhos que se cruzam nas ruas.
É um encontro meio obrigatório. E se você não estiver a fim de ir lá? Não pode, fica chato se não aparecer. E mesmo que queira ir a um cinema, shopping, bar ou botequim, não pode, está tudo infernalmente fechado. Para, ao menos, uma vez na vida, todos se confraternizarem.
Mas como me confraternizar com quem eu não simpatizo, ou não gosto, ou não me entendo, ou simplesmente com quem eu não falo mais? Se suas idéias me causam aversão, suas manias me irritam, se quem come demais confundo com porco, se quem come de menos são esses doentes que fazem dieta até no Natal.
Nada acontece de novo no Natal! É proibido levantar problemas, não é hora para resolvê-los e sim de apaziguá-los.
E se vier a conhecer sua namorada na véspera e dar de cara com a família firifinfim? Fuja enquanto há tempo. Mas ir para onde, agora que todo mundo já está enturmado no Natal?
Enturmados, enfurnados, se encontram os ateus que, com mau humor e depressão, suportam o Natal, sabe-se lá Deus como.
A fartura de comida e de presentes só cede lugar a Cristo que, revisitado e relido todo ano, fornece meios para se entender melhor o espírito de Natal. A estrela-guia que conduziu os Reis Magos, com os presentes de Natal, para saudar o nascimento de Jesus Cristo, não funciona como varinha de condão, nem para tanger seu rebanho. Apenas um alerta sutil de que precisamos nos aproximar para aparar arestas na natureza humana.