A história masculina a respeito de fidelidade no casamento é terrível, triste e deprimente, confessa o homem diante do Juízo Final.
É a dor de ter que escolher na transição da paixão por várias mulheres para a idealização da paixão por uma mulher só. A escolha de Sofia, a dor cruel. Pior quando se é jovem e, na medida que amadurece, ganha um refinamento. Ainda pesa na balança a incerteza de ser feliz no casamento. Incapaz de mexer na estrutura do edifício, atém-se apenas à decoração, afinal, todo mundo tem problemas sexuais. O amor é efeito colateral do sexo; a fidelidade, um absurdo, só podendo ser compreendida como uma perversão.
– Tanta mulher no mundo e eu fico com uma só? Qual a justificativa lógica para isso?
Sua grande característica é transformar a vida em arte. Ser artista é a atividade mais importante do homem, elimina qualquer depressão. A arte foi feita para ajudar os homens a viver. Sua utilidade se apercebe na insônia, quando não há nada a fazer. O importante não é descobrir a verdade e sim se divertir. Começa por estudar o personagem, introjeta nuances e particularidades afins com o ato de pular a cerca, alternando o ar grave que acentua credibilidade com o sorriso aberto a sublinhá-lo de bem com a vida. Conscientiza-se dessa emoção e a faz chegar à razão para depois repeti-la à exaustão. É quando ela se apaixona ao acreditar na delícia de sua imaginação.
Sujeito ao imperativo darwiniano de competir com outros animais na conquista da parceira ideal, sai em busca de mulheres sexualmente atraentes. Os machos competem entre si, embora, contraditoriamente, se irmanam no comportamento mafioso de repetir a genética ao se afirmarem comendo a mulher do próximo. O que pode resultar em insegurança se ela tomar a iniciativa num banheiro de festa, escada de serviço ou rua deserta.
A querer dar as cartas no jogo com o útero estendendo seus tentáculos para agarrar e envolver o pênis e acabar com essa história de ser simplesmente trespassado por ele, pois se até quando está por baixo suas pernas funcionam como tenazes e puxam o seu homem para si. A autoridade de quem é detentora do recurso biológico mais valioso, o óvulo, lhe confere a prerrogativa de escolher o seu parceiro, diante do desperdício espantoso de espermatozóides na corrida para o orgasmo. Tamanho desmando nessa configuração biológica só pode fazer o homem sucumbir ao ciúme, levando-o a se auto-indagar:
– As mulheres estão se tornando vadias ou apenas querem se igualar a nós?
Apenas querem repetir tudo o que o homem é capaz? Uma linha de raciocínio ainda atrelada à costela de Adão. Próprio de quem se esfrega na primeira assanhada que abanar o rabinho. Para gozar da fama de estar na área sempre que instado a içar sua bandeira. Jamais se critica a comilança a que o homem se entrega, no máximo um “cafajeste” – soa como um elogio.
Quanto às mulheres, querem ter o direito de escolher seu próprio prazer. Sem que isso ponha em risco sua reputação. Para não ficarem restritas à situação de Maria Chiquinha e ouvirem a pergunta: o que você foi fazer no mato? Natural que noivinhas, prometidas e separadas de primeira viagem procurem por onde anda seu orgasmo sem medo de ser feliz… e chamusquem-se. Se ofendem a parte interessada, é para evitar o mal maior. Se não saírem em campo e praticarem o esporte de forma mais incisiva, as labaredas do desejo acabarão por consumir o seu corpo.
É perigoso brincar com fogo, o homem não é a favor do casamento aberto. Vai que dá um azar dela encontrar alguém sem papo-cabeça disposto a escrever uma verdadeira história de amor e não queira mais voltar para ele. Seguro morreu de velho, melhor manter-se fiel porque dói muito ser infiel quando se está casado. Dá culpa, estimula desencontros e corrói a cumplicidade, quando o amor pede apenas a plenitude:- Fidelidade: ruim com ela, pior sem ela.
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