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“FORA, CABRAL!”: DE MOCINHO A VILÃO

Sérgio Cabral Filho, o governador do Rio de Janeiro, é a maior prova do que poucos acreditam. Ninguém esperava que fosse cair no descrédito depois de reeleito por 66% dos votos graças à criação com sucesso das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que puseram um fim nas gangues que dominavam as favelas, armadas até os dentes, e que impunham um regime de terror aos seus moradores. Atualmente, é alvo de uma campanha de desmoralização e de perseguição implacável, como se estivessem chutando um cachorro atropelado no meio da rua, sem dó nem piedade, para acelerar o seu fim.
Poucos acreditariam que um homem vitorioso e empreendedor como Eike Batista acabasse por assistir de camarote à corrosão de sua própria fortuna, face ao seu fascínio em pretender ser o homem mais rico do mundo tê-lo desnorteado a ponto de o seu forte transformar-se no mais fraco. Ver o seu filho tirar a vida de um zé-ninguém à beira da estrada na direção de um supercarro em alta velocidade. O mesmo Eike, parceiro e sócio nos negócios do estado do Cabral, com ambos descendo ladeira abaixo. Se tivessem tido juízo, humildade, discrição e sabedoria, no seu ápice, não se encontrariam nessa situação humilhante. 
Tudo começou para Sérgio Cabral Filho por onde todo político costuma errar, quando delira no auge de seus triunfos. No curso de obras que recuperaram economicamente o Rio de Janeiro e o seu antigo status, encabeçadas pela empreiteira Delta, cujo dono, Fernando Cavendish, tornou-se companhia obrigatória de Cabral – a despeito dele menosprezar os políticos salientando que bastava acenar com propinas para os cachorrinhos virem abanando a cauda. 
Por onde todo político costuma errar e extrapolar no amor. A relação promíscua foi o estimulante para Cabral se apaixonar pela cunhada de Cavendish, se não fora o mau tempo, a caminho de um regabofe da dupla com outros convivas nas cercanias de Porto Seguro, provocar a queda do helicóptero e vitimar as irmãs, mulher e cunhada de Cavendish, em 2011. Sorte de Cabral e de seu filho, que perdeu sua namorada no helicóptero lotado de mulheres, crianças e babás, que foram na frente. Mais sorte ainda de Adriana Ancelmo, a primeira-dama, que já havia abandonado há dias o Palácio Guanabara quando soube do affaire. O destino penalizou a ambos os varões, que brincaram com a sorte na vida, e, assim sendo, tudo voltou ao seu lugar com Adriana recuperando seu posto de relevo e Cavendish tornou-se viúvo. 
A divulgação das fotos das entusiasmadas visitas de Cabral a Paris com bandana de guardanapo na cabeça e inebriado com o poder, ao lado de seu secretariado e de Cavendish, foi o prenúncio da morte anunciada.
As manifestações no inesquecível junho de 2013 fizeram o gigante despertar e a turba, enlouquecida com o aumento nas tarifas e com os transportes públicos sempre lotados, quis mostrar seu desprezo pelos nossos homens públicos. Invadiram o Palácio Guanabara e o apartamento de Cabral no Leblon, ainda mais quando tomaram conhecimento do uso ilegal de helicópteros do Estado para transportar a família e funcionários até a sua casa de veraneio em Mangaratiba, aí incluído seu cachorro Juquinha. 
O mote nas manifestações de padrão FIFA para escolas e hospitais brotou das impressionantes instalações do novo Estádio do Maracanã que, privatizado, fizeram os manifestantes gritar o “Maraca é nosso!”. 
Os três quebra-quebras de maior repercussão – no Palácio Tiradentes (Assembleia Legislativa), no perímetro formado pela Avenida Presidente Vargas, Cais do Porto, Cinelândia e Lapa, e no Leblon – cobertos pela mídia Ninja, e a chegada do Papa ao Rio de Janeiro, com sua sabedoria, humildade, transparência, simpatia e carisma, obrigaram Sérgio Cabral Filho a recuar, até por sobrevivência política.
Sustou a demolição do Parque Aquático Júlio Delamare, do Estádio de Atletismo Célio de Barros, da Escola Municipal Friedenreich e da Aldeia Maracanã, no entorno do estádio, que iriam ser derrubados para dar lugar a um estacionamento e shopping center. Suspendeu a venda do terreno do quartel-general da Polícia Militar na Rua Evaristo da Veiga, cujo valor histórico e arquitetônico remonta ao último ato público do imperador Pedro II. E mais o fará porque vão-se os anéis, mas ficam os dedos.
Poucos acreditam que um dia a desgraça recairá sobre a cabeça de poderosos, de gente até eminentemente inteligente e com uma folha de serviços que servirá de base para outros fazerem melhor, mas que, num determinado momento, metem os pés pelas mãos, perdem o rumo e minam a fama que adquiriram ao longo de sua trajetória, desperdiçando uma oportunidade rara que a poucos é concedida. Ai de quem tenta brincar com a vida na arte de manipular! A conta ser-lhe-á apresentada mais cedo ou mais tarde.

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Antonio Carlos Gaio
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