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FREUD E A ESPIRITUALIDADE

Freud já dizia em 1926 que, se reconhecêssemos os motivos egoístas por trás de conduta humana, não teríamos o mínimo desejo de voltar à vida. E mesmo que o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que tocava a ele, estava perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente lhe parecia absurdo.
Um discurso absolutamente pessimista, egoico, angustiado por não encontrar saída e sem levar fé no inconsciente coletivo de Jung e no elo entre o passado e o futuro. Não foi à toa que ambos romperam. Um Plano Espiritual imenso os dividia. 
Já Bernard Shaw sustentava que vivemos muito pouco. Ele achava que o homem pode prolongar a vida se assim desejar e que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas. Desde que expanda sua vontade de atuar sobre as forças da evolução. 
A evolução tem que vencer o desafio de amor e ódio conviverem numa mesma pessoa, bem como o impulso da vida e da morte nos habitarem, lado a lado. Igualmente a luta por manter-se vivo e o se encaminhar para a própria destruição, entregando-se à sua própria sorte ou se suicidando. Assim como também toda matéria viva, humana ou não, consciente ou não, busca readquirir a completa inércia da existência inorgânica, segundo Freud, em seu absoluto niilismo. 
Quando a vida tem que completar o seu irreversível ciclo de existência, onde a pulsão de vida é forte o suficiente para predominar sobre a pulsão de morte, até chegar a hora de ceder a vez e perder terreno para a fraqueza nas pernas, as costas não serem um doce remanso, o coração bater mais fraco e o pulmão não mais respirar.
E se ainda houver um desejo de viver mais? E se não estiver cansado de viver? Ou o medo de morrer transfigurar seu espírito, por não saber o que lhe está reservado? E se for para dar um fim ao egoísmo e adquirir mais consciência numa nova vida? Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, numa luta interminável entre o espírito e o ego, o desapego e o apego. Temos que evoluir para não sermos meramente orgânicos ou inorgânicos e nos tornarmos amor e compreensão, lado a lado, dentro de si e em contato com os outros.

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Antonio Carlos Gaio
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