O que está por detrás da notícia em rápidas palavras
  
  
Recentes
Arquivo
Arquivo
novembro 2024
D S T Q Q S S
 12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930

GATO OU GAY?

A lucidez provoca dor, principalmente quando se propaga sem limites, originada numa consciência que te açoita sem piedade.
Você pode imaginar quem, nos seus 55 anos, é bem-sucedida e faz o que quer e quando quer? O homem com que anda a tiracolo é ela quem escolhe. Invariavelmente um jovem, para acompanhar a juventude de seu espírito, o vigor de sua locomotiva, a velocidade em acompanhar os mil papéis que desempenha; o principal, a Catarina da Rússia. O homem que a escolta e cultiva o físico, sem ser um armário, para ela admirar e ser admirada ao seu lado – ele é gostoso, mas tá comigo.
Orgulha-se de ser objeto de controvérsia e de ter o dom de provocar irritações profundas. Como todos têm que olhá-la de baixo, desperta antipatias. Sente-se livre para experimentar o que quiser, porque tem vontade, coragem e espírito de aprendiz. Depois de passar a vida inteira preocupada com o amanhã, mudou sua disposição para brincar com o destino. Faz reposição hormonal, aeróbica, musculação, ioga, alimenta-se a cada 3 horas. Aplica botox, preenche rugas e abusa do mercado de complexos vitamínicos. Adora alardear que é irresponsável, o segredo de estar bem. Desde que ela mantenha o avião sob controle.
O cara a reboque pode ir embora quando quiser, pois ela é sempre maior que ele. Se compara a Chiquinha Gonzaga e torna a separação algo absolutamente previsível. Chegou num limiar em que não há surpresas, de um romantismo fora de propósito um mancebo transformar seu horizonte.
Toda vez que ela o procura para levar um papo sobre suas perspectivas de vida, ele se mostra atento, com os ouvidos abertos e sem demonstrar o menor sinal de espanto, mesmo diante de um absurdo, incompatível com o seu perfil, percurso passado ou futuro a alcançar. Não é problema dele! Ele não tem nada a ver com isso. As conseqüências, se houverem, recairão sobre a cabeça privilegiada de que ela jacta est. Para que meter o bedelho, tirar conclusões apressadas, trocar idéias de igual para igual, diagnosticar nódulos, se não sabe se é benigno ou maligno? Pois se ele goza de sua experiência, seja quando apreende as cabeçadas que ela andou dando ou quando se transforma em objeto sexual. Por baixo na cama se sente valorizado, querido, amado e capaz de enlouquecê-la. Seguro de que esse combustível ela não pode adulterar, embora nutra essa ilusão. Aliás, cuida, e muito bem, de não fazer qualquer reparo à mulher que paira no limbo dos cinqüenta, nem cinqüentona, muito menos sessentona. O protótipo do imaginário da mulher-bomba.
Uma mulher-bomba prenuncia uma nova ordem no porvir. Por cautela, ele procura estar o mais próximo possível. Para não parecer suspeito e atrair atentados contra a sua desenvoltura e afirmação como homem. Que ainda não tem bem definido que tipo de mulher seria mais adequado para ele. De uma coisa ele está certo, ao não se lançar de afogadilho sobre a primeira que despertar seu ardor. Nem sobre a segunda, terceira, e por aí vai. Preferível ficar na sua, a examinar por onde seu desejo se insinua. Exercitar-se na espera, na tranqüilidade, deixar que ela o aborde, versado que é na filosofia taoísta do não-agir. Mesmo que levante suspeitas sobre sua placidez, quando o ronronar de um gato e o expelir lascívia é o comportamento de praxe. Procura apenas jamais baixar os olhos, manter altiva a visão para bem distinguir no fundo da retina de arrivistas a intenção da pretensão.
Seja à primeira vista ou em último plano, ele não se preocupa em ser considerado um alvo fácil para ela exercer seu domínio. Dando margem para o comentário desabonador do homem de que não é homem, instigando a réplica da mulher de que é inveja, pois ele é um gato. Ele treplica com oportunista, tirando proveito da pose, envergadura e tecnologia dessa mulher produzida, enquanto esquenta os motores para fazer sua opção, sabe lá Deus quando… em ser gay. Um ato de coragem, que é o que lhe falta. Bunda-mole ou não, ela se sente atendida, satisfeita com o prazer proporcionado, amor a gente inventa. Tem razão, há gosto para tudo, ao menos terá histórias para contar a seus bisnetos. Maldade pura, pois serão lendas. Assim ela acredita, pois desafiam até o espelho. Uai, na crença de que seu caminho é limpo, correto e inovador. Ele não, não tem maiores compromissos com o papel que irá exercer no futuro. Prevê um largo tempo para saber quem é e o que representa nesse planeta. Dúvidas, quem não as tem? Se não interferir no desejo… A transição é um choque. Menos para quem restou feliz. Dividir para reinar nunca deixou nenhuma mulher feliz. Só se ela não tiver mais reino. É justamente do que se está falando, da terra de ninguém; quando se come a torta, o que se busca é o recheio, nada mais frustrante do que devorar um pastel e nada encontrar. É, a pior realidade é saber que não existe um passado naquele presente. Ué, ao menos valeu a experiência. De ter sido enganada? Ela não foi enganada, necessitava daquilo para viver, como poderia questionar se o produto era falso ou verdadeiro? Foi verdadeiro enquanto durou. Então, dê-se por satisfeita, não reclame, porque a maioria não chega a seus pés. De que adianta coragem, se nada foi como aparentou ser? Agora Inês é morta. À merda com suas metáforas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Antonio Carlos Gaio
Categorias