Gays que se dizem bissexuais cultivam o medo de fazer a transição em definitivo para a outra margem do rio, onde seriam mais felizes. Numa tentativa de aliviar a carga da discriminação contra a porção majoritária gay ao viver os últimos dias de Pompeia como se machos fossem. Ser bissexual é um bom escudo e ajuda a retardar a derivação para o lado que dá maior prazer aos gays: a bunda. Ainda mais que assusta a vizinhança que se diz hetero e quer sair bem na foto, por não conviver bem com tamanha convicção quando não acha natural – é forçar a barra, dói ou envolve submissão, perversidade, senão sadismo.
Assim sendo, o hetero não se sente muito à vontade para fazer pouco caso ou mesmo repudiar os bissexuais, pois os vê com carga dupla de energia sexual, e isso não só o amedronta como o afasta. Por pura precaução. E por um complexo de inferioridade. De jamais conseguir atingir tamanho grau de desejo. O que incomoda e não o anima a discriminar ou a conhecer de perto como essa fenomenologia se manifesta.
Já o bissexual pode se manter casado e ter filhos, até proporcionando muito mais prazer à sua mulher, com sua sensibilidade, do que a maioria dos que se julgam machos. Mas deixa uma lacuna vazia ao hesitar e não se entregar ao homem que ama, optando por ficar agarrado à saia da mãe – a esposa ou companheira de fé -, que lhe proporciona cobertura por nele encontrar um homem sem paralelo na praça.
O gay em questão fica desatendido e não sai do armário. Prefere bater no peito e se declarar bissexual, traindo a causa homossexual.
E ai de você se duvidar de que ele é bissexual! Vai perguntar quem é você, dizer que não entende nada de sexo, é preconceituoso, careta, conservador, retrógrado ou do tempo do cócoras. O bissexual se acha muito mais avançado por cortar pros dois lados. Menos em assumir seu verdadeiro prazer que é ser gay.
Nada do que foi dito acima será endossado ou sequer admitido pelo gay que se diz bissexual. Por que optar por ser gay se pode tirar prazer de dois sexos? Quem predeterminou que a escolha normal e ajuizada é permanecer ancorado a uma sexualidade, se não somos cem por cento definidos como homem e mulher aos olhos da biologia? Por que manter-se acorrentado às imposições da sexualidade com que nasceu? Por que se apresentar trajado com essa camisa de força?
Contudo, em sã consciência: quem consegue ser feliz ao longo da existência com o eu dividido? Insatisfeito com as divisões clássicas de homem e mulher a que estamos sujeitos, condicionados e – por que não? – condenados. Na dúvida entre ser ativo ou passivo. Em busca do prazer baseado na alternância, onde o objeto do desejo se modifica conforme o desejo sinalizar. Não tem uma hora em que o corpo demanda um acasalamento em virtude de o espírito sinalizar uma necessidade de estabilizar o seu eixo? De forma a pacificar o rebelde que habita em nós em nome do amor.