Sabe aquele papo típico de bar? Quando se discutem assuntos polêmicos como mulher, futebol e religião? Quando, depois de muitos chopes, os desconhecidos começam a trocar confidências e a filosofar sobre o sentido da vida? Temo que isso em breve não vá mais existir. A não ser que o bar se mude para dentro de casa, ao lado do computador, ou para dentro de uma lan-house. Sim, porque cada vez mais as pessoas não têm o que falar quando se encontram com os amigos. Elas já esgotaram todas as fofocas pelo e-mail, msn, orkut e os malditos comentários de blogs e afins!
Como já falei demais do correio eletrônico, site de relacionamento e chat em textos anteriores, agora vou me dedicar aos tais comentários.
Imagino que para a diretoria de um jornal e para um autor de matéria ou artigo deve ser ótimo saber como o próprio texto foi recebido pelos leitores. Eu, que sou autora “famosa” apenas entre meus amigos, só recentemente descobri como é bom “ouvir” os amigos sumidos, mesmo que isso ocorra nos frios espaços da web. Não nego a qualidade dos tais comentários para quem quer testar a audiência e coisas do gênero. E até aplaudo o lado libertário e democrático da coisa: de dar voz ao povo. O que não entendo é como as pessoas perdem tanto tempo e, principalmente, têm coragem de falar de coisas tão íntimas para esse mundo de gente que acessa a internet.
Sempre fui muito expansiva. Uma das primeiras características que as pessoas costumam associar à minha pessoa é exatamente a completa falta de timidez e, por que não dizer, uma ligeira cara-de-pau. Mas aqui confesso: morro de pudores de sair tascando comentários fragmentados sobre as notícias e os textos alheios, em páginas da internet, que milhares de desconhecidos vão acessar. Falo tudo, falo até demais, mas com aqueles que me conhecem ou que, pelo menos, estão vendo a minha cara durante meu pronunciamento. E me respondem na hora, se não com palavras, mas com olhares que dizem tudo. Também exponho minha opinião quando escrevo, seja artigo, crônica, conto ou poema. Mas esses comentários são estranhíssimos. Já ensaiei escrever um ou outro mas me arrependi. Algumas vezes, cheguei a ficar dez minutos digitando minha opinião para, na hora H, apagar tudo e desistir de apertar o botão de enviar.
Parece que as pessoas aplacam suas carências de serem ouvidas digitando seus comentários. Imagino até o que deve acontecer em alguns lares. A mulher chega do trabalho e aborda o marido. Digamos que ela queira lhe contar suas teorias sobre o assassinato da Isabela Nardoni (só se falava nisso no dia em que escrevi esse texto). Então o esposo responde que está ocupado, diante do computador. E não é que ele está justamente comentando esse assunto, na internet, com um bando de desconhecidos? Ele fala com o resto do mundo, mas não tem tempo para conversar com a mulher. Frustrada por não ter sido ouvida, a moça é capaz de tomar o lugar do companheiro quando ele for dormir e digitar seu comentário no final da mesma matéria jornalística sobre a qual o marido opinou. E os dois vão dormir felizes, afinal muita gente lerá suas opiniões. Eles estão quase famosos!
Que mundo é esse em que se dialoga mais com quem não faz parte das nossas vidas do que com nossos próprios filhos, maridos, esposas e amigos do peito? Quer dizer, será que daqui a quarenta anos os adolescentes teclantes de hoje ainda terão amigos do peito ou só amigos do orkut e MSN?
Como você vê o futuro da geração MSN? Eu não faço comentários em texto alheio, mas, por favor, não se esqueça: os seus comentários são muito bem-vindos!
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