Gertrude Stein (1874-1946) fez de sua casa entre as décadas de1910 e 1920 um fervilhante palco de festas e encontros intelectuais que fizeram eclodir o que se concebeu como modernismo, muito bem retratado no filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”. Por ali passaram, desfilaram, se embebedaram e duelaram em debates com sua genialidade Salvador Dali, Picasso, Matisse, Cézanne, Gauguin, Degas, Hemingway, F. Scott Fitzgerald, T. S. Eliot, Ezra Pound, Buñuel, Jean Cocteau, Cole Porter, Josephine Baker, Peggy Guggenheim, entre outros.
Paris era uma cidade aberta a experiências de linguagem em todas as artes. Com olho clínico para detectar talentos, Gertrude reunia artistas da vanguarda que viriam a abrir a cabeça do século XX, propiciando um diálogo movido a intensa troca de ideias, que a levou a arriscar na escrita e no teatro, seu período mais experimental, que redundou em obras inovadoras com sentidos incompletos, solapando o senso de comunicação e do entendimento unívoco.
Opera rupturas nas convenções do teatro dramático. Rompe com a concepção de dramaturgia como tema, trama e uma boa história. Rompe com a narrativa de caráter linear e desenvolvimento de histórias regidas por elementos consecutivos e causais que levam às instâncias de conflito, clímax e resolução ou desfecho de impasse. Rompe com a ordem previsível e autoritária do discurso da retórica. Desconstrói a performance teatral como ilustração do texto. Libera o texto e a palavra da função de representar e explicar situações de vida. Descarta a construção de personagens, personalidades, identidades, de psicologias, garantindo a autonomia criativa ao diretor.
Gertrude Stein surgiu para ativar e liberar a imaginação do espectador. Tem perfeita noção de que a obra que um autor imagina e aquela que o público, o ator e o diretor imaginam são coisas diferentes.
Cabeças assim nos acostumamos assimilar tardiamente porque vieram ao mundo para romper padrões e convenções que julgamos mais cômodos para suportar a vida. Por não termos arrojo para nos lançar no espaço livre, mas pleno de conteúdo. Daí mal interpretarmos essas figuras excêntricas (que se afastam do centro) porque morremos de medo de tudo que não nos propicia bases seguras.