Nota-se que certas mulheres depois de viverem uma vida plena optam pelo ocaso. Pelo eclipse. Pelo recolhimento. Perdem o savoir-vivre. Não querem mais saber de papo. Não retornam telefonema. E o que é pior, não mais contestam. Calam-se no mais profundo dos silêncios e abandonam seu espaço à mercê dos fantasmas.
Dividem-se em duas vertentes no exercício da sexualidade. Se abdicam, perdem a insustentável leveza do ser e chamam tanta atenção no rompimento com o passado que nos levam a pensar se efetivamente existiram. Se ainda praticam esse encarniçado esporte, chama atenção o parceiro encarregado de aliviar suas dores, bem encaixado no papel coadjuvante a ele reservado.
Albert Camus já chamava a atenção para gente que abdica da vida por uma causa. Muito antes do surgimento do homem-bomba. Nenhuma causa vale a vida. É mais fácil morrer pelas próprias contradições do que viver com elas. Foi por isso que Greta Garbo não se suicidou.
Chegam a um ponto de sua vida que não aturam mais conversar com as mesmas pessoas, trocar idéias tamanha a diversidade de opiniões, abrir a porta de sua casa. Encerram o futuro no presente e pouco a pouco apagam os vestígios de grandiloqüência, entusiasmo e interesse no próximo, à espera do barqueiro Caronte para levá-las à morada das almas.
Fazem o homem se sentir, e o mundo criado à sua semelhança, como a mais abjeta das invencionices de Deus, agora que a maçã de Eva não acende como a lâmpada de Aladim. A costela de Adão deveria se converter no elo perdido da civilização. Mal-humorada com a perda do brilho das estrelas, do estrépito dos raios, da luminosidade do relâmpago, a intermitente chuva que escurece o ambiente.
Essas mulheres incorporam o espírito de Greta Garbo. Já vai longe o tempo em que eram capazes de roubar seu futuro marido à acomodação, salvando-o do rodamoinho que o tragava. Deram sentido à vida de inúteis e fracassados que usaram a energia e beleza delas para ganharem consistência. No auge de seu encantamento, jamais lhes passou pela cabeça que esses mesmos homens se desinteressariam e deixariam de olhá-las no fundo de seus olhos – no ostracismo, o inferno.
A mais horrenda das traições é a quebra na confiança. As greta garbo sofreram nas mãos de homens que até queriam se envolver, mas daí a se comprometerem, um largo passo. A marca da maldade gravada no inconsciente. Claramente inadequados ao exercício de uma convivência em que as sugaram até não mais poder e as empurraram para o exílio voluntário.
O pior de tudo é que podia ter terminado logo no início do romance, na primeira troca de impressões. Se não fosse aquela maldita música que Greta Garbo odeia desde a infância, mas que todos aplaudem e dançam, como pano de fundo. Uma chatice só, que a remete ao tédio, à desesperança e à impossibilidade total de criar qualquer coisa. Mas o fascínio de todos pela música funcionou como varinha de condão e transformou o sapo em príncipe.
A ficha cai quando Greta Garbo descobre seu passado inglório. No entanto, arrependimento não mata. É da natureza as cobras trocarem de pele periodicamente. Mas Garbo perdeu o ânimo e só o amor constrói. Constrói o seu retiro e se fecha em copas. Para que não precise mais dar explicações a ninguém.
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