Os Estados Unidos criaram uma nova modalidade de guerra, amparados na legislação trabalhista brasileira: a guerra com justa causa. Expulsar Saddam Hussein do trono para evitar que seu governo utilize armas de destruição maciça ou as transfira a grupos terroristas, a justificativa de fachada para Bush deflagrar guerra contra o Iraque. Por trás dos panos, o acesso irrestrito ao cru do petróleo e abrir a exploração de novos poços às nações amigas.
É bem verdade que Saddam Hussein já esgotou a paciência de qualquer cristão, quando tenta imitar Stalin – com quem parece – ao dar sumiço nos suspeitos de atividades políticas e xiitas, não poupando nem seus parentes, sejam mulheres ou crianças, sem contar prisioneiras violentadas, línguas arrancadas e execuções sem julgamento. A Iugoslávia é aqui, no Iraque, Bush é o nosso dragão da moral diante desses olhos que a terra há de comer.
Não há dúvidas de que o Iraque possui um arsenal de armas químicas e biológicas – nucleares, a próxima atração -, porém de quantidade e qualidade que deixam a desejar, mas que na mão de Osamas, Malucos Elias e Beira-Mares torna-se um Deus nos acuda. Falta apenas comprovar com material fidedigno que o paiol de pólvora se localiza embaixo do trono onde Saddam se alivia. A única certeza para valer é a de que as reservas petrolíferas do país alcançam 112 bilhões de barris, volume menor que o da Arábia Saudita, o maior produtor mundial. Fator que intranqüiliza ainda mais, pois o Risco Islã supera de muito o Risco Brasil com Lula presidente.
O Departamento de Estado americano criou uma força-tarefa chamada Grupo Futuro do Iraque para desenvolver planos em que aquele país, sob um novo regime – com eleições livres? -, aumentaria significativamente a produção de petróleo, se controlado por corporações americanas. Seria criado um consórcio com o CNI, o maior e mais influente grupo dissidente iraquiano. O mercado mundial sofreria alterações sensíveis se o Iraque pudesse ter um papel independente no setor, livre do cartel de quotas da OPEP, ampliando seu poder de barganha, principalmente em relação aos Estados Unidos, que importam 60% do petróleo que consomem. Seria o peso-pesado do grupo, se levado em consideração que a Arábia Saudita perderia sua posição dominante.
No papel, perfeito. Falta apenas combinar com a comunidade muçulmana. Ou então, não fazer amor e fazer a guerra, e ganhar.
Vocês já pensaram se um dia a comunidade científica puser a cabeça para funcionar, realmente, e descobrir um outro combustível mais barato, menos poluidor e encontrável na natureza, de graça? As companhias de petróleo acabariam, bem como o caminhão de negócios que rebocam, pulverizariam o patrocínio de campanhas presidenciais, o mercado publicitário sofreria um baque, o Rio de Janeiro mergulharia no piscinão da miséria sem os royalties, os petroleiros iriam pra casa mais cedo ou não decolariam dos portos, o cinema perderia os negativos do celulóide e o mundo deixaria de girar sobre as rodas, libertando-se de um condicionamento que o faria criar asas e voar, voar para bem longe, para onde papai Noel se esconde.
E se a solução da fonte de energia que irá substituir o petróleo estiver no coração do Amazonas? Os Estados Unidos constituiriam um consórcio para nos explorar, declarariam guerra ou ocupariam pura e simplesmente? Sim, porque os brasileiros não são belicosos, traficantes, seqüestradores, homicidas, arrombadores, assaltantes, punguistas, pivetes à parte. Certamente, sentaríamos à mesa de negociações em Washington e ajustaríamos um acordo em que o Brasil deixaria de ser a Índia da Belíndia para se converter no Estado mais crente do Primeiro Mundo.
A única exigência dos gringos seria que largássemos de mão essa coisa de corrupto. Nós exclamaríamos de indignação, qual uma vestal insultada, e em voz mansa de mineiro que quer ser carioca, mandaria na lata:
– Não esculacha, meu chefe. Nós somos da paz, não gostamos da política gritada, falando manso se ouve mais, apreciamos sentar para negociar, no fast-food não se decide nada. Manda lá seu recado, o pulmão é nosso, vocês precisam dele para respirar, quem mandou deixar o planeta ter esquentado tanto para manter o nível de emprego e riqueza lá no Texas de vocês? Acho bom virem de mansinho e aprenderem como se vive aqui. O último que pirou na Amazônia foi um tal de Fitzcarraldo. Toda vez que se fala de altos negócios, lá vem a tal da corrupção, alguém tem que oferecer mais para levar a parada, cabe ao outro barganhar para tirar vantagem, puxa dali, puxa daqui, olha “nóis”, o Brasil, a Terra Prometida, com os brônquios em dia, o único que cheira mais limpo, lava melhor e dança conforme a música! Venha, venha comigo, venha e aproveite o sabor das frutas que tingirão sua boca de cores que não esquecerá! De viva voz, eu lhe prometo, não te arrependerás, apresse-se, as eleições serão amanhã, senão não chegarás a tempo.