Quando Obama, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, tentou explicar a incoerência da busca pela paz com o envio de mais tropas para o Afeganistão, em virtude do calibre dos talibãs não combinar com negociações, não se poderia esperar que o tiro do seu discurso alcançasse em cheio as favelas do Rio de Janeiro. Já são quatro ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) – ideia gestada no governo Sérgio Cabral – nos bairros de Botafogo, Leme, Realengo, e na emblemática Cidade de Deus. Inaugurada a estação de metrô em Ipanema para o Réveillon, a comunidade de Pavão, Pavãozinho e Cantagalo é a próxima a ser liberada do jugo do tráfico. Não cabia convocar os guerrilheiros do tráfico para negociar a paz, tamanho o número de balas perdidas; o lucro é muito alto e eles não vão abrir mão. Por enquanto não reagiram à ocupação progressiva, apenas alguns ônibus queimados e assaltos nas redondezas. Todavia, ainda restam 90% de favelas para o estampido dos tiros darem lugar às batidas do surdo, tarol, caixa de guerra e tamborim, sob a batuta da cuíca.