Há coisas na vida que definitivamente não têm volta. Uma palavra num instante de raiva, por exemplo, pode nem mais ser lembrada por quem a mal colocou, mas vai ecoar na memória de quem se sentiu atingido, às vezes, pelo resto dos seus dias. Uma traição decerto passará em branco em quem a cometeu, mas jamais será esquecida por quem sofreu o peso da desdita. Os humanos costumam decretar sentenças condenatórias a respeito do caráter de seus supostos algozes. E o mais acachapante: um olhar de ódio poderá até se transformar em carinho, ou mesmo em amor, mas quem já foi abalroado e o registrou em sua retina ficará impedido de assimilar e deixar entranhar o amor por temer outra arremetida irada.
E as humilhações? Ignoradas por quem as causou, infundem cicatrizes na alma de quem foi tripudiado. E as mentiras? Ditas num clima de cinismo repugnante como se fossem verdades e que, quando descobertas, apunhalam o âmago da questão. E as grosserias? Quão selvagens e impiedosos nos tornamos!
Um amor desenvolvido ao longo dos anos e que, no final, é apagado por um dos lados como se não tivesse tido sequer alguma importância, machuca mais do que maltratar um animal. A consideração não levada a sério dói e imobiliza. Ainda mais se subjugada a ignorâncias e desfeitas.
Palavras, antes de serem proferidas, devem ser pensadas e atitudes, analisadas. Não se agride uma alma a troco de nada. Pois saiba que a conta de suas atitudes impensadas ao longo da encarnação com quem for íntimo ou distante, em algum momento, lhe será apresentada e cobrada para os devidos fins.