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HABEMUS PAPA NO BRASIL

Uma Igreja Apostólica Romana celibatária a legislar sobre a moral do sexo e do relacionamento, invocando a castidade, o espírito de sacrifício, a renúncia. Enquanto os fiéis, acusados de vida dissoluta, se debatem em meio ao proibido e condenável: infidelidade, camisinha e aborto, à procura da utopia do amor perfeito. Tudo e todos girando em torno de controlar o instinto sexual, que Freud realçou nas suas incursões sobre a libido, sem atinar que despertou um ente poderoso cuja única função é pôr a pulga atrás da orelha de quem está quietinho no seu canto. Pode originar surtos de pedofilia ou na prática de ficar, própria de garotas de programa, segundo prelados que enxergam longe: a educação sexual é uma cortina de fumaça para evitar a concepção e ensinar técnicas de prazer.
Quando ficar é paquerar, flertar, encurtar as distâncias a fim de chegar nos carinhos com alguém que você de princípio gosta, trocando beijos, porque beijar é bom e relaxa. Se deriva para beijar garotos em série, ou beijos longos e apaixonados, é a experimentação que estarrece. Sem que necessariamente haja amor, próprio de uma fase de vida, até como forma de se exibir perante os coleguinhas, com o propósito de mostrar o poder de sua capacidade de atração ou então, não se sentir jogado fora. Se inicia na erotização sem idade precisa para se manifestar, se desenvolve nos agarrões e pega-pegas, até alcançar o estágio da busca pelo afeto. O que não quer dizer que não possa ter uma recaída, quando constata que o namoro virou uma prisão. Daí a necessidade de camisinha para evitar um intruso nessa confusão dos diabos ou disseminar doenças que transparecem um gosto de pecado.
Mas os homens não engravidam e a bomba estoura no útero da mulher, que tem de decidir o que fazer do seu destino. Se não transa sem camisinha para evitar o dilema, ou se arrisca a vida num aborto clandestino porque não tem dinheiro.
A sede de Deus, maior ainda nesse momento, não combina com excomunhão, exílio ou degredo, da mesma família inquisitória. A personalidade humana está presente desde o primeiro momento em que a concepção abre as portas e confere valor à vida e à sua beleza intrínseca. Matar uma criança não é compatível com o amor que a gerou. Se fugaz o amor que se esvaiu na noite, não é possível dar um passo atrás, o mal já está feito. Para virar o bem, esse é o ser ou não ser, eis a questão.
Quem dera que o papa morasse no Brasil para traduzir em miúdos a moral e ética que norteia a nossa horrenda distribuição de renda e açoitar, a exemplo de Jesus Cristo, políticos, empresários, magistrados e policiais corruptos. Para tirar a impressão de que o mundo não foi feito para os dois terços da humanidade que vive abaixo da linha da pobreza e sobreviveu ao aborto.

Antonio Carlos Gaio:
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