Para o leigo, história em quadrinhos está associado ao antigo gibi e a super-heróis para entreter crianças, como se fosse desenho de animação.
Para o francês Christophe Chabouté, de 53 anos, o estilo tão particular de produzir bandes dessinées (como os quadrinhos são chamados na França) deu origem à sua obra-prima em “Um pedaço de madeira e aço”. Pelo fato da HQ conter 340 páginas sem texto algum.
O quadrinista explica que, no seu método de contar histórias em quadrinhos, a imagem é que fala por si mesma, o que permite ao leitor imaginar o que deseja. Chabouté constantemente deixa portas abertas para que ele construa seu próprio diálogo, sua própria história, seu próprio passado e seu próprio futuro. Quando cria um personagem, tenta colocar alma em seu rosto, não se permitindo fazer julgamento em suas histórias, contentando-se apenas em mostrar o que pode machucar ou revoltá-lo no dia a dia.
Considera que atinge o ápice de seu trabalho quando o leitor preenche as lacunas como se digitando as falas de cada personagem onde não há nenhumA, de acordo com a expressão fisionômica de cada um. A perspectiva do leitor é que deve predominar na história, com o autor se coassociando a ele, desde que moderando no texto para não enfatizar demais os atores da trama.
Acha que a melhor maneira de transmitir uma emoção não é escrevê-la, mas sugeri-la. Cada leitor precisa captar a emoção à sua maneira, apropriar-se dela e dar sua própria versão.
Premiado em 2006 com o maior prêmio no festival francês de Angoulême, o álbum “Henri Désiré Landru: o maior serial killer da França”, de 148 páginas, não faz do assassino em série uma vítima, mas o coloca como protagonista de uma narrativa diferente dos crimes que o levaram a ser julgado e condenado à guilhotina.
Conhecido como Barba Azul, Landru era casado e pai de quatro filhos e foi sentenciado em 1922 pelo assassinato de dez mulheres e um adolescente, filho de uma delas. Mas é possível que o criminoso, careca e de barbas longas, tenha ido muito além, pois chegou a se corresponder romanticamente com quase 300 mulheres durante a 1ª Guerra Mundial.
Nos anúncios de relacionamento que publicava em jornais, sempre com uma nova identidade, Landru fingia buscar um novo amor para se casar. Uma mulher tão solitária quanto ele demonstrava ser. Seu alvo eram viúvas gozando de boa situação financeira, que haviam perdido seus parceiros na Primeira Guerra. Após seduzi-las, ele as convencia a acompanhá-lo até a casa que mantinha fora de Paris, e lá as estripava.
Registre-se que os corpos dessas infelizes mulheres nunca foram encontrados, numa época em que decresceu a sensibilidade para a morte, tamanho o número de cadáveres gerados pelos confrontos encarniçados da Primeira Guerra, explorados com maestria pelo homicida implacável.
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