Para irritação e desespero das mulheres, o homem que não assume uma relação assim o faz por absoluta falta de convicção. Não por ele não conseguir ser homem com sua parceira constante. E sim devido ao caráter de estabilidade diminuir seu interesse e apagar sua bela flama. Tirar-lhe o caráter de desafio, a não ser que briguem que nem cão e gato, pois o amor é febril na trégua e remove qualquer traço de tédio. Parecer que tudo está dando certo aos olhos dos outros a ele exaspera. Sabe que não resiste ao encanto da fantasia – a masturbação é a prova colhida no ato. O desejo fala por si e está para nascer quem o contenha. O romance enleva a alma e afloram os sentimentos mais sublimes, se comparados com a realidade desgastante no tentar construir uma relação, onde nossos defeitos alcançam uma dimensão que embotam a criatividade necessária para manter aceso o fogo da paixão.
Não assumem o relacionamento por temer que não vá dar certo e nada será como antes, amanhã. Provocando nelas um inconformismo dilacerante, frustradas pelo fato de o namoro não durar tanto quanto supunham, nem sequer eles as tratarem como namoradas. Quando as apresentam às suas famílias, paira no ar uma compaixão que incomoda. Choro virá por conta do amor mal correspondido, perdido no distanciamento que aumentou com o tempo.
Isso se não vier a se encantar pelos belos olhos verdes e carentes da amiga mais próxima de sua namorada. Aquela que ficava de vela. O que soa a traição! Você está redondamente enganada! Quem não assume relação não consegue se estabelecer entre quatro paredes e desenvolver a convivência sem buscar a perfeição, onde personalidades díspares procuram no amar uma unidade. Como ele dá muita importância ao antagonismo e a detalhes do ego que separam, não se atribui culpa por haver traído.
Não existe traição se você não está de corpo e alma dentro da relação. Se você não é comprometido com o amor que não o arrebata. Ou não acredita, a ponto de não mudar seu estilo de vida. Ou se recusa a sair do lugar em que se encontra e ir em direção a ela. Ou não desapegar-se de seu entorno.
No tempo do onça, seria considerado um solteirão inveterado. Tampouco se trata de um ilusionista que promove a relação a um nível de envolvimento que engana a parceira, pois não faz uso de nenhum discurso barato, recheado de promessas vãs e vis. Apenas sublinha o desejo. Somente sobe as escadas até um determinado degrau. Escaldado contra falsas labaredas de amor, que só irão lambê-lo e consumi-lo por inteiro.
Bem esconde um receio em evitar arroubos que alcançam o furor incontrolável, quando o amor não se desenrola da forma como imaginou. Ou mesmo se enganou a respeito da personalidade que o encantou. Não quer passar por um menino imaturo. Bater portas, arrancar com o carro em alta velocidade e não conseguir dormir, enquanto não der jeito no sonho que virou pesadelo. Aprendeu a ser impotente no reparo de cabecinhas abiloladas. Deu-se conta de que a sua também não é nenhum primor, quando se depara com os seus erros. Para que discutir acaloradamente a ponto de ir à cara do outro? Ou para que ouvir, em resposta, o silêncio que humilha? Para que ver negado um beijo furtivo e tardio, a título de reconciliação? Para descobrir apenas que não mais se afinam e não falam a mesma língua? Para que, então, se amofinar se o desgaste baixou ao nível do chão? Pior é o desejo que não se despede, de arma em punho, pronto a restabelecer o cerco e usurpar, como tirano, o direito de ela se governar.
É melhor ficar quieto – tudo penso e nada falo. Não criar expectativas. Aceitar o seu santo destino. Não forçar a natureza. Dobrar o amor, resistindo a uma força superior que deseja que nos misturemos até ganharmos textura e densidade. Quem vencerá?