Todos se assentam conformados na máxima de que ninguém morre de véspera; no dia marcado, todos terão de prestar contas a Deus. Contudo, muitos partem antes do tempo previsto para o ciclo de sua encarnação. Precipitam-se nos acontecimentos, machucam-se na queda e falece a vontade de viver. Não são suicidas, mas esgotam suas condições físicas à medida que deterioram sua mente, amargam sua visão de mundo, infelicitam-se mergulhados na inércia, e aí se vão. É a incompletude consumada no regresso feito antes da hora.
Dividem-se em dois grupos. O primeiro tenta nos enganar, vendendo-nos a imagem de não pretender abandonar a vida tão cedo, quando, na verdade, tem um medo que se pela de morrer. Diz-se até agnóstico e que não está comprovado que existe vida após a morte: “tudo morre quando o corpo é enterrado”. Mas se suas convicções a respeito da vida já foram motivo de pranto e sepultadas convenientemente em algum recanto do cemitério que virou sua alma penada, só lhe resta ingerir remédios para dormir. Ou curtir uma depressão. Ou simplesmente não se cuidar, deixando a vida o levar, entre palpitações, falta de ar e dor no peito. A cometer excessos até que venha um médico e o ponha a ferros.
O segundo grupo já entregou os pontos. Espera, noite após noite, o dia em que será levado. Se pudesse, faria uso da eutanásia. Angustia-se por não encontrar a porta de saída para poder falar com Deus. Alquebrado, curva-se diante das dores acumuladas em sua trajetória. Se achava que uma vida já estava de bom tamanho, como imaginar planos superiores de vida? Se ainda guarda o peso de suas próprias inferioridades e não se apercebe de que somos uma centelha que veio de Deus e com luz no coração. Nenhum baque ou crise é tão grande que não se possa enfrentá-la, mesmo se for uma tragédia que julgou desproporcional e imerecida em sua existência. Há que empregar sua essência para transformar o carma.
Ignoram que a morte apenas extingue o outrora belo corpo, mas o espírito continua e carrega consigo os mesmos problemas que você teve a oportunidade ímpar de transformar no mundo físico e desperdiçou a chance. Pior, e essa é a maior estupefação, os problemas enfrentados eram minúsculos para levá-los à tamanha insatisfação.