É todo casal, por definição, que sai junto para todos os cantos, se falam ou se vêem quase diariamente, cercado de testemunhas que desconhecem que o casal divide a mesma cama, mas não “cruzam”, não se interpenetram, não dão cabo da missão, não se pegam, não batem o ponto, e muito menos fazem amor.
Caso você se enquadre nessa definição restrita e conservadora, será considerado pelo círculo estreito da sociedade como um anormal, afinal morar junto e dividir as quatro paredes torna acessível o sexo seguro e viabiliza o prazer com um ganho sem risco, mantida a fidelidade.
Caso não queira pensar com a frieza de um economista e voar mais baixo, viver em casal propicia segurança evocada pela carência da figura masculina, seja pela complementaridade, ou pelo viés da proteção suprida a carência, ou pelo fato de o marido ser também as rédeas para que ela não se solte, se desprenda das amarras e não se perca nas desconseqüências dos descaminhos das incertezas da liberdade.
Visto assim por ela. Visto por ele, ao mesmo feitio, seja pelo lado de quem lhe opõe sem maiores tabus, resistindo na medida certa sem afrontá-lo, ou pelo fato de a esposa ser o freio moral de sua tendência secular a Don Juan, ser volúvel nos gostos e interesses, um “galinha” em derivação para o prazer na troca constante, quiçá a orgia.
Vivem juntos face ao compromisso perante nossa existência que gera uma necessidade de dividir as responsabilidades pelos atos que cometemos, tornando insosso o dia-a-dia ao não ter ninguém para passar a bola, com quem trocar idéias sobre os rumos do Titanic que comandamos, trocar figurinhas sobre o sermão do padre, jogar pingue-pongue sobre o filme da sessão da meia-noite, ter com quem criticar o salgado da carne, o doce do toucinho do céu, o amargo do café e o azedo da conversa. Para evitar a mudez.
Enfim, escapar desse dilema que é um verdadeiro buraco de não ter com quem dividir, quando deveria ser para somar.
Devido ao medo de amar de novo, ser amiguinho até que já é uma solução, para quem não quer perder nada, não ousa conquistar e que não almeja pitibiribas de renovação. Por comodismo e culpa de não ter conseguido corresponder a quem quer que seja, em função do que foi, dito ou recomendado para.
Hoje em dia, a mulher é cobrada por não ter filhos, não ter trabalho – o reconhecimento à dona de casa é nulo -, ou não ser uma mulher eleita por algo real ou não usado para convencer, que ponha as cartas na mesa e demonstre efetivamente qual é o seu cacife e a que veio, se para preencher espaço ou marcar presença. Quanto ao homem, é cobrado por ser vagabundo, não possuir horizontes definidos e mostrar-se desambicioso, em suma, inserir-se na competitividade da sociedade, a não ser que ela o banque para servi-la.
Lá no fundo adormece na alma da gente um pai e mãe, uma chaminé rolando argolas de fumaça e uma paz de espírito que trespassa a realidade a que somos convertidos, alimentando sonhos que não faleceram na primeira curva de nossa estrada.
Caros irmãozinhos, não é pecado deixar de carimbar o leito que os repousa, contudo nunca é demais lembrar o exemplo que Deus legou através de Abraão, em seus tenros 99 anos: “Anda em minha presença e sê perfeito. Eu farei minha aliança entre Mim e ti, e multiplicar-te-ei extraordinariamente. Tu serás pai de muitas gentes, te destinei para pai de muitos povos. Far-te-ei chefe das nações e de ti sairão reis. Darei a ti e à tua posteridade a terra da tua peregrinação, toda a terra de Canaã, em possessão eterna, e serei o teu Deus”.
E que não se acuse Deus de machista. Abençoaria a estéril Sara, mulher de Abraão, com um filho aos 90 anos, o legítimo sucessor de um virtual futuro de reis e nações. Isaac foi a prova viva do pacto que Deus estabelece para dar luz a irmãozinhos e amiguinhos. Dá plantão no cartório, Aquele para quem nada é impossível. Animem-se, dêem à luz!