Quando jovens, no desejo de viverem as delícias do amor, ambas aventavam sobre as possibilidades no amor, sempre se fazendo a mesma pergunta: “Isso é amor ou é paixão”? Era tão difícil responder a esta pergunta sem a menor ideia do que seria uma coisa ou outra! Tão poucas experiências amorosas ainda não permitiam distinguir tamanhos sentimentos.
Como se a paixão fosse uma coisa menor propensa a se extinguir a qualquer momento, a menos que se transformasse num sentimento duradouro (o sonho) que se enraizasse por entre as incertezas, sufocando-as, para predominar a mais valia do prazer, que é o amor.
Ou como se a paixão fosse uma coisa maior, que o amor trataria de pôr no seu devido lugar e quebrar seu encanto a título de amadurecer emoções tão fortes e descontroladas.
Até chegar num momento em que tudo vaza, o encanamento estoura e daí sai coisa que até assusta Deus com tanto desvario, insensatez e desequilíbrio.
Porém era como se, respondida esta questão, passasse a não mais ter problema algum. Havia excelentes razões para se fazer esta pergunta. Razões muito particulares, muito pessoais, que ninguém quer abrir, sob pena de não saber explicar por que nasceu com esse turbilhão de coisas povoando sua intimidade e que requerem extremo cuidado e discrição para não demonstrar falta de desenvoltura no manejo da vida.
Regina não suportou que sua amiga se casasse e logo tivesse filhos. Ela teria quebrado o pacto de não casar, mas somente de se relacionar, rompendo com o condicionamento que sujeitava as mulheres à instituição e aos encargos que nelas pesavam durante os anos 1960.
Sendo assim, ela se achou no direito de perguntar para sua amiga antes de nunca mais vê-la: Você é apaixonada por seu marido ou apenas o ama? Ou então: ama de verdade ou é somente uma paixão? Regina tencionava controlar seus pendores para o amor de modo a não sofrer, mas sabia que, irrompida a paixão, não havia Cristo que desse jeito. Sua amiga sonegou a fórmula de sua felicidade até para proteger sua delicada intimidade de incursões que a deixassem exposta e abalassem sua segurança recém-adquirida.
Regina se sentiu traída pela amiga. Paixão e amor acabam com amizades. Com o distanciamento ao longo de anos a fio, a morte precoce de Regina veio a aumentar a saudade da amizade e do companheirismo que havia entre ambas. Necessitou da intervenção do irmão de Regina, através do livro “Regina”, que escreveu contando sua trajetória e o seu trágico fim, para reaproximar as amigas. De onde está, Regina inspirou seu irmão a contar sua história e promoveu o resgate da amizade. Uma pá de cal sepultou qualquer ressentimento que porventura houvesse.
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