Como é que pode a crítica tachar de menor um filme de um mestre como Almodóvar? Se a maioria dos que o precederam é arte de gênio, “Julieta” é brilhante. Como se não bastasse o tema de uma mãe que é rejeitada pela filha ao atingir a maioridade, a ponto de desconhecer para onde foi, sem deixar vestígio e aparentemente sem uma razão forte. A plateia assiste completamente envolvida pela história plena de criatividade, a ponto de uma surpresa no final do filme fazer jus a lamentações, pena e inconformismo do público, expressos em voz alta. Se um cineasta consegue um tamanho arrebatamento, imagine tratar de uma temática, muito atual, como a mulher dona de seu nariz, independente, ousada, livre, e que não mais fecha os olhos para o homem que não é fiel à tremenda atração que sente por ela. Almodóvar não chega a abordar que essa mulher hoje é capaz de cortar a cabeça dele à mais leve ameaça, mesmo sendo relacionada a um passado que já morreu. Capaz de dispensar seu amor atual, completo em todas as suas dimensões, ou pô-lo em quarentena, ou passar a observá-lo com olhos de lince. Uma vigilância ou descarte que carrega no seu bojo o passado sofrido de suas ancestrais. Mas ainda um tremendo atestado de possessividade e de ciúme descomunal não compatível com os tempos de “ficar com fulano”.
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