Em 1983, rompi com um grande amigo racista que abominava o socialismo moreno de Brizola, apesar dele próprio ser um produto típico da miscigenação. Filho único, de hábitos extremamente simples, porém bem posicionado profissionalmente por conta de sua acurada inteligência, herdou dos pais o apartamento em Ipanema no qual eles moravam, de que nunca saiu, desde que lá nasceu. Também adotou a filha da empregada da família, que cresceu e lhe deu neto em seus apenas 18 anos – em ambos os casos, filhos de relações com pais ausentes. Todos morando na mesma casa, ele, a empregada e sua filha, bem como o neto. O amigo racista acabou ganhando uma família que ocupou o lugar de seus pais, suprindo seu amor por crianças que ajudou e continua a ajudar a criar. No papel de provedor, para compensar a desconfiança crônica que sente pela mulher de maiores aspirações, capaz de trair com a maior facilidade e pelos motivos mais banais, segundo sua baixa autoestima revelando o misógino. É bom frisar que o socialismo moreno viria a evoluir para a emergente classe C de Lula e que o amigo teve que amainar seu ódio discriminatório em favor de sua própria felicidade em família. O verniz elitista e fascista, calcado em sua suposta inteligência superior, deu lugar ao convívio entre pessoas comuns, mas que lhe deram em troca um raro calor humano, o suficiente para aplacar seu contumaz pessimismo, que alimenta, sem cessar, sua total descrença na vida. É a Lei da Ação e Reação: ao jogar no Universo uma energia negativa, tudo aquilo que repelia com asco se reverteu e lhe foi devolvido sob forma do que precisava para recuperar a família e não se sentir só nesse mundo de Deus.
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