A moradora de rua Fernanda Rodrigues dos Santos costumava perambular pela Nossa Senhora de Copacabana de sacola colorida, chapéu no quengo e rosto excessivamente rosado parecendo uma boneca de pano, alheia a tudo ao seu redor. Ariando incansavelmente as panelas da vizinhança, o que lhe garantia algum dinheiro para sobreviver. Teria buscado a rua por decepção, após ter sido abandonada pelo marido, um francês que partiu levando seus três filhos. Um universo intercruzado de pobreza e loucura que não a livrou de ser assassinada com um tiro no peito enquanto dormia coberta por papelão nas imediações do Lido. Os autores da “limpeza social” foram um lutador de MMA e um estudante de Medicina, quase formado. A eliminação de um morador de rua não pode ser encarada como um caso isolado. Lembram-se do índio Galdino, que se perdeu em Brasília depois de participar de um evento organizado pela FUNAI e que acabou dormindo num ponto de ônibus? Alvo de cinco jovens que atearam fogo em seu corpo imaginando tratar-se de um mendigo e que, no fundo, era uma brincadeira. O Rio de Janeiro está barra pesada, mas o mundo se encaminha para uma violência gratuita pautada pela banalidade do mal. As pessoas estão odiando a si mesmas e ao próximo. Justifica-se um menino matar colegas de sala por motivo de bullying? Será que teremos de reaprender a exercer a humanidade inerente a todos os seres humanos? A aprender a conviver e respeitar o próximo? Decerto que temos de buscar uma sociedade menos desigual economicamente e sociedade mais justa não é coisa de comunista. Senão nos destruiremos em meio a uma guerra de nós contra nós mesmos. Sob o pretexto de uma “limpeza social”. O que dará margem a uma reação igual e contrária para destruir essa mentalidade fascista renascida no século XXI.