Escrever é um intenso debate sobre até onde se pode ir nos limites do experimentalismo e efetivamente criar. Em busca da utopia da liberdade total para se expressar. O ideal. Para onde Deus aponta com o dedo plasmado na abóbada da Capela Sistina, no Vaticano. O Paraíso Celestial. Quando deve imperar a falta de consciência para não reprimir o impulso criativo. Não é algo em que se deva pensar enquanto escreve.
É como se nos dirigíssemos à felicidade total, embora sabendo que não vamos alcançá-la com as mãos, nem mesmo com as pernas ou, em se tratando de felicidade, através do beijo. Mas nem por isso renunciamos a sair em seu encalço. Pois não há narrador ou descrição de cenário que descreva suficientemente, seja a liberdade ou a felicidade total.
Só se for por meio de diálogos delirantes entre personagens encarcerados atrás das grades ou restritos a um círculo de giz em que ninguém tem coragem de dar um passo adiante. A debater se a liberdade total existe com a conversa percorrendo um labirinto torturante e obsessivo conforme se desenrola nas redes sociais em tempos de eleição.
O que soa como uma etiqueta para uma literatura densa, cinza e pouca atrativa, indicando que a arte necessita ser refinada. Quando a arte pode ser simples. Mas também não precisa ser sempre acessível.
A literatura ideal é aquela que permite o texto original ser mexido e alterado, transformado num rascunho para se sobrepor outro texto a partir daquele, e até transgredir escritas clássicas contextualizando-as na atualidade, sem temor de incorrer num plágio e vir a ser processado. É criação em cima de outra criação sem respeitar hierarquia e tradição. Abandonando o exclusivismo da autoria e a possessividade do que é meu, para propiciar mais e mais criatividade.