Excelente filme de Paolo Virzi dentro da lamentável cota reduzida da produção cinematográfica italiana que chega ao nosso país, com a sua típica sensibilidade exacerbada e personagens vivendo seus problemas com extrema intensidade e nervos à flor da pele, que encontra tanto eco no Brasil. O filme localiza o drama numa clínica psiquiátrica para mulheres com distúrbios mentais e consideradas socialmente perigosas, possuidoras de algum passivo com a justiça. Portanto, não é uma comédia pastelão como a crítica ensaia rotular, no máximo impregnada de humor negro. Aborda os transtornos de personalidade de obsessão e compulsão das personagens vivenciadas pelas lindas e maravilhosas Valeria Bruni Tedeschi e Micaela Ramazzotti, uma refinada de estirpe aristocrática que move mãos e braços sem parar de falar, como uma autêntica histérica italiana, enquanto a outra se veste com andrajos e representa uma sombra de si mesma. Com o desenrolar do filme vão conquistando muita coisa em comum, à medida que vão se tratando juntas na clínica, até ambas fugirem de lá, quando confrontarão, unidas, os dramas pessoais que as levaram a ser internadas como loucas perigosas. Apesar dos delírios de grandeza ou de depressão profunda, elas são mais lúcidas do que as outras mulheres na instituição psiquiátrica e nos induzem a girar em torno de suas incursões pela bela Itália, tornando-nos seus cúmplices ao descobrirmos a imensa penca de problemas que desgovernaram sua trajetória de vida, seja dilapidando o patrimônio, se amasiando com escroques, perdendo a guarda de filhos, tendo pais que mal dão conta de si ou que contribuíram para sua loucura, restando-lhes o suicídio para pôr um fim nesse inferno, salvo se a recuperação vier a caminho sob o aceno da liberdade e andarem com suas próprias pernas. Não somos tão diferentes de seres humanos que se perderam em seu rumo. Não é tão difícil disso vir a acontecer. Quiçá escapamos por nosso destino vir traçado para dar suporte e orientar os que precisam de norte e leme.
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